quarta-feira, 24 de junho de 2009

E se os fungos deixassem de fungar?

Por Amanda Garcia, 222


Se isso acontecer, primeiramente, viveríamos num grande lixão. Viveríamos rodeados de matéria orgânica esperando para ser decomposta.

Nossas árvores sentiriam falta do mutualismo propiciado pelas micorrizas. Numa floresta como a Amazônica, que possui um solo pobre e é conhecida como um ecossistema equilibrado, as plantas seriam profundamente afetadas: quando uma árvore morre, sua matéria orgânica é decomposta e, logo depois, seus nutrientes absorvidos por outra “recém-nascida”. As micorrizas se instalam nas suas raízes, ajudando-as a absorver os nutrientes do solo. Em florestas temperadas, tornam a planta mais resistente ao frio e à seca. Poderia acontecer a morte de muitas árvores, desmatando florestas, aumentando o nível de dióxido de carbono na atmosfera e agravando o efeito estufa.

Haveria também um desequilíbrio ecológico entre os anfíbios. Os quitridiomicetos são fungos aquáticos que provocam doenças entre esses animais, e sua falta poderia provocar um superdesenvolvimento da espécie, alterando a cadeia alimentar.

Em questões gastronômicas, os japoneses ficariam tristes por não terem mais molho shoyu tradicional para acompanharem seus sashimis, tendo que recorrer ao molho shoyu artificial. Esse tipo de molho tem sua produção e importação proibida no Japão. Não é feito através de fermentação nem de cogumelos: é simples farinha de soja, xarope de milho, extrato de malte e alto teor de sal, o que elevaria a pressão da população, além do surgimento do contrabando do produto. Os ocidentais lamentariam a falta de seus queijos, bebidas alcoólicas, seus pães sem fermento biológico, champignons... A Oktoberfest entraria em declínio; a economia movimentada pelo vales dos vinhedos, na serra gaúcha, também. Iríamos para bares para beber guaraná, excluiríamos o gorgonzola do nosso cardápio e a Nintendo veria seu mais famoso jogo entrar no esquecimento. O álcool etílico tampouco poderia ser utilizado como combustível, aumentando o uso de gasolina e a exploração de combustíveis fósseis, contribuindo novamente para o efeito estufa. Ao mesmo tempo, mães seriam poupadas da preocupação de seus filhos estarem embriagados: haveria uma queda no número de acidentes por motoristas alcoolizados e dependentes químicos teriam seus problemas resolvidos. Com a crise na indústria de bebidas, a produção agrícola cresceria. Sem os fungos que provocam as “ferrugens” e estragam plantações, a produção seria maior e de melhor qualidade. O Brasil seria um grande exportador de café, milho e outros cereais.

Nos tornaríamos mais saudáveis, pois, em vez de beber cerveja, beberíamos cappuccinos. Na área da saúde, algumas doenças seriam extintas e outras se tornariam fatais. As conhecidas micoses, provocadas pelos fungos (mycos = fungo), não existiriam mais, e tampouco alergias como asma e rinite. Entretanto, a falta do Claviceps purpurea, que em pequenas doses é usado para controlar hemorragias pós-parto, causaria um aumento na procura por cesarianas nos hospitais. Sem outro tipo de fungo, o Penicillium notatum, não existira um elemento essencial para o tratamento da saúde: a penicilina. A partir desse fungo, Alexander Fleming desenvolveu um antibiótico, revolucionando a medicina. Durante a Segunda Guerra Mundial, a penicilina salvou milhares de soldados. Com ela, doenças infecciosas causadas por bactérias (como a pneumonia, sífilis, gonorréia, tuberculose) voltariam a ser fatais. Isso causaria um decrescimento na população mundial.

O mesmo Claviceps purpurea, utilizado em certas doses e combinado com algumas substâncias, gera a droga LSD. Esta também não seria mais produzida nem comercializada. Seria um benefício a toda população, assim como o fim dos problemas ocasionados pelo uso excessivo de álcool. A violência no trânsito e o tráfico diminuiriam. Traficantes de LSD se ocupariam de vender outros tipos de drogas. Tribos indígenas mexicanas também teriam que usar outro alucinógeno em seus rituais.

Positiva ou negativamente, os fungos interagem e interferem na nossa vida. Da decomposição até a LSD, desempenham papéis muito importantes. A vida no planeta se tornaria difícil, principalmente, sem a reciclagem de nutrientes que esses organismos nos proporcionam. Eles fazem parte de uma cadeia e de um ciclo que nós também fazemos, e para manter o equilíbrio, é necessário que continuemos presentes e desempenhando nossa função.

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