quarta-feira, 24 de junho de 2009

E se os fungos entrassem em GREVE? - a saga continua...

Por Fernanda Menegotto, 221

Melinda Banks terminou o relatório de sua pesquisa. Os estranhos fatos que vinham ocorrendo desde as duas semanas anteriores estavam, como ela suspeitou desde o começo, todos interligados.
Ela pegou o telefone e discou os números que estavam anotados em um post-it colado na tela do computador.
Alguém atendeu ao segundo toque:
- Professor? – ela disse ao ouvir o “alô” do outro lado da linha, e continuou sem nem esperar sua resposta. – Estávamos certos. Eu terminei meu relatório, já enviei para o seu e-mail.
- Ótimo, Srta. Banks – respondeu o professor Weasley, sentando em frente ao computador e abrindo o e-mail. Lá estava o arquivo: “relatório.doc”. – Ligarei em um minuto – ele falou.
- Certo – a jovem estudante confirmou e desligou.
O professor Weasley abriu o arquivo: era um relatório informal, simplesmente toda a informação que Melinda Banks tinha coletado, junto a outro brilhante estudante da universidade, no mesmo arquivo.
O professor correu os olhos pelo arquivo, até que chegou às conseqüências:
→ Todos os fatos relatados como “estranhos” por diferentes pessoas de diferentes lugares estão relacionados à parada da atividade dos fungos. Aparentemente, todos os tipos de fungos simplesmente pararam de exercer suas respectivas funções, tanto em favor quanto prejudiciais aos seres humanos. Essa espécie de “greve coletiva” gerou, nas últimas semanas, diversas conseqüências. São elas:
#Conseqüências negativas da parada de atividade dos fungos:
• Na decomposição de matéria orgânica: fungos são importantes decompositores, pois se alimentam de substâncias de folhas mortas, cadáveres e resíduos;
• Culinária: fungos do gênero Tuber (as trufas), do filo dos ascomicetos são apreciados, de valor muito alto, na culinária. Além destes, também são utilizados nas cozinhas fungos mais comuns, como Agaricus, do filo dos basidiomicetos; Os fungos do filo dos zigomicetos são utilizados na produção do molho de soja (shoyu);
• Utilização comercial: os levedos, do filo dos ascomicetos são utilizados na fabricação do álcool, de bebidas alcoólicas e de pães; o gênero Penicillium é responsável pela produção da penicilina e dos queijos roquefort e camembert;
• Pesquisas científicas: os fungos Neurospora, também do filo dos ascomicetos, é utilizado em pesquisas genéticas;
• Vegetais:
*Os liquens (associação entre fungo e alga verde, no qual o fungo absorve água e sais minerais, oferecendo-os à alga) são importantes indicadores do grau de poluição do ar, uma vez que absorvem facilmente substâncias tóxicas, então através de seu desaparecimento pode-se perceber a poluição do ar. Deles também são extraídos alguns corantes e o tornassol, um indicador do pH (medida que determina se uma solução é ácida - pH < 7 -, neutra - pH = 7 -, ou básica - pH > 7);
*As micorrizas (são associações de fungos com raízes de plantas. Os fungos aumentam a superfícies de absorção de água e sais minerais para a planta, além de converterem certos sais minerais em formas mais facilmente absorvidas pelas plantas) são necessárias para um melhor crescimento ou até do mantimento de plantas.

#Conseqüências positivas da parada de atividade dos fungos:
• Alguns fungos do filo dos ascomicetos, como o Aspergillus flavus e o Claviceps purpurea atacam cereais; a ingestão do segundo provoca ergotismo (causa alucinações, espasmos nervosos, convulsões, gangrena e a morte). Os fungos do gênero Aspergillus podem se desenvolver em produtos agrícolas e produzir aflatoxinas, substâncias tóxicas que podem causar câncer no fígado;
• Os fungos do gênero Amanita, do filo dos basidiomicetos, são venenosos e atacam cereais e café, por exemplo, causando grandes prejuízos à agricultura;
• Os fungos do filo dos quitridiomicetos provocam doenças em anfíbios, e são uma causa para diminuição do número desses animais, o que causa desestruturação da cadeia alimentar;
• Os fungos que não tem reprodução sexuada conhecida são colocados no grupo dos deuteromicetos, e eles são parasitas de animais e vegetais, causando as micoses.
Eram conseqüências simples, conhecidas, com o diferencial, no relatório, de estarem agrupadas.

O velho professor discou o número de Melinda e esperou que ela atendesse. Teve de esperar até o sexto toque.
- A que conclusões chegaram, Srta. Banks? – o professor perguntou.
Ela pigarreou do outro lado da linha, e olhou para o colega com quem vinha trabalhando, que estava sentado em uma das poltronas da biblioteca pessoal da família Banks.
- Bom, embora por um lado seja algo bom que os fungos não estejam trabalhando corretamente, já que são causadores de doenças que podem levar até a morte, não podemos ficar sem o seu funcionamento. Sabemos como conviver com o lado negativo da existência desses fungos, mas não sabemos conviver nem com o lado bom, nem com o lado (que é infinitamente maior) ruim desta espécie de “greve”. – Ela fez uma pausa para respirar, já que falou tudo isso muito rápido. – Portanto, nós precisamos, com urgência, descobrir as causas dessa parada e fazer com que o funcionamento dos fungos volte ao normal. O mais rápido possível.
- Certamente, Srta. Banks, precisamos – o Professor concordou calmamente. Um pouco calmamente demais, na opinião dela. Fico orgulhoso do excelente trabalho de apuração que você o Sr. Thomas fizeram, mas enquanto os dois faziam isso, eu me assegurei de fazer o outro lado: descobrir as causas desta “greve dos fungos”, conforme a Srta. colocou.
- É mesmo? – Melinda perguntou, colocando o telefone no viva-voz para que Cal Thomas também pudesse ouvir o que o professor tinha a dizer.
- O Sr. Thomas está com você? – perguntou o professor Weasley, e ao ouvir a estudante concordar, ela pediu: - Coloque o telefone no viva-voz, por favor.
- Ela já fez isso, Professor – disse Cal. – Boa noite para o senhor.
- Boa noite, Sr. Thomas – ele cumprimentou. – Segundo as pesquisas que estive fazendo, os fungos deixaram de exercer suas atividades devido à falta de estrutura às quais têm sido submetidos. Com árvores sendo cortadas e altas temperaturas, as condições de que eles precisam para se desenvolverem e sobreviverem, de pouco sol e umidade, vêm desaparecendo. Assim, os fungos também vêm desaparecendo rapidamente, mas só fomos perceber e prestar atenção nisso agora que essa espécie de pane ocorreu.
- Então a culpa é, basicamente, nossa? – Melinda perguntou, embora já soubesse a resposta. Ela era, afinal, uma estudante de uma das melhores universidades de todo o país.
- Exatamente – respondeu o professor Weasley.
- Ótimo, tudo o que precisamos fazer para tentar reverter pelo menos o pior da situação é devolver as condições necessárias para o crescimento deles – Melinda concluiu.
- Como se isso fosse fácil – Cal falou diretamente para ela. – O mundo inteiro vem falando de devastação e aumento significativo de temperatura há anos, e mesmo assim nada nunca é feito a respeito.
- Isso é verdade, mas talvez se conseguirmos expor o que já está acontecendo e quais as conseqüências imediatas disso, a gente tenha resultado. Pelo menos um pequeno resultado – Melinda disse.
- Exatamente, Srta. Banks – o professor falou. – É isso que vamos fazer. Vamos buscar apoio e trabalhar para devolver às condições que os fungos precisam para continuar exercendo suas funções. Podem começar agora.
- Claro, Professor – Melinda respondeu. – Manteremos contato. – E desligou o telefone.
- Espero que ele nos dê algum crédito extra por todo esse trabalho – Cal comentou, se espreguiçando e levantando da poltrona.
- Se liga, Sr. Thomas. Você já vai receber todo o crédito possível: você vai ajudar a evitar uma catástrofe ecológica. Uma catástrofe ecológica mundial.
FIM