Este texto traz muitas, mas muitas informações. Ao ler, perceberá uma infindável lista de termos e expressões biológicas. Não dê muita bola! A não ser que você queira fazer uma prova de vestibular, que, infelizmente, se detém em coisas pequenas, que você esquecerá no dia seguinte... PORTANTO, encare o texto como uma oportunidade de ver que existem diferenças entre os sistemas digestórios dos diversos organismos vivos. Pense nas diferenças e no modo de vida de cada ser vivo citado.
Igor
A maioria das bactérias (inclui seres dos domínios Archaea e Bacteria, ambos procariontes) são quimioeterotóficas, alimentando-se para isso de outros indivíduos. Desempenhando o papel de saprófitas, se alimentam de matéria orgânica do solo ou outro substrato, lançando para isso enzimas sobre a matéria orgânica, e digerindo os produtos solúveis por absorção. No que se refere aos regimes de vida e ao metabolismo energético, encontram-se bactérias que mantêm o regime heterotrófico exclusivo, tal como certamente foram os primeiros seres vivos. Outras, fotossintetizantes, são autotróficas, como as bactérias verdes e as púrpuras. Em ambos os grupos, existem espécies sulfurosas (que oxidam o sulfureto de hidrogênio) e outras que oxidam outras moléculas, mas nunca a água.
A digestão anaeróbia é um processo segundo o qual, algumas espécies de bactérias, que atuam na ausência de oxigênio, atacam a estrutura de materiais orgânicos complexos, para produzir compostos simples: metano, dióxido de carbono, água, etc., extraindo em simultâneo, a energia e os compostos necessários para o seu próprio crescimento, como ocorre na produção do biogás. Os organismos metanogênicos são capazes de produzir energia segundo a seguinte reação:
A metanogênese é uma reação que proporciona um fluxo de prótons nas células e pode suportar um mecanismo quimiosmótico de produção de energia e ATP. Os metanogênicos apresentam metabolismo quimiorganotrófico ou autotrófico. Apesar de requererem condições fastidiosas para crescimento e anaerobiose obrigatória, esses organismos são amplamente distribuídos na natureza, sendo encontrados em diversos ambientes associados à decomposição de matéria orgânica e/ou atividades geoquímicas. São utilizadas para gerar grandes quantidades de biogás, e, portanto, apresentam importância econômica além da enorme importância no saneamento ambiental.
Nos Protistas, nas espécies de vida livre, como a Amoeba e o Paramaecium, há formação de vacúolos digestivos. As partículas alimentares são englobadas por pseudópodos ou penetram por uma abertura pré-existente na membrana, o citóstoma. Já no interior da célula ocorre digestão, e os resíduos sólidos não digeridos são expelidos em qualquer ponto da periferia, por extrusão do vacúolo, ou num ponto determinado da membrana, o citopígio ou citoprocto.
Os Fungi nutrem-se por absorção, após uma digestão extra-corpórea e extracelular. Os fungos liberam enzimas digestivas para o meio, e depois absorvem as substâncias resultantes dessa digestão. Os fungos executam "nutrição externa", ou seja, vertem enzimas sobre o alimento (substrato) e absorvem as partículas previamente digeridas. As substâncias são distribuídas através de uma corrente citoplasmática que percorre todas as células.
Os fungos secretam enzimas sobre o substrato que colonizam e depois absorvem as moléculas simples resultantes da degradação enzimática do substrato.
Relativamente à fonte de alimento podem distinguir-se quatro grupos: excepcionalmente predadores - hifas envolvem a presa (geralmente asquelmintos, no solo) e secretam enzimas que a digerem; saprófitos - obtêm energia, carbono (C) e nitrogênio (N) diretamente da matéria orgânica morta; parasitas - utilizam hospedeiros vivos, animais ou vegetais, dos quais obtêm “alimento” com prejuízo para o hospedeiro e, causando doenças no hospedeiro, são denominados patogênicos; mutualistas - obtêm energia, C e N de hospedeiros aos quais proporcionam benefícios. Exemplo de fungos mutualistas são os fungos que formam líquenes (com algas ou com cianobactérias) e os fungos que formam micorrizas (em associação com as raízes das plantas).
As plantas carnívoras ou insetívoras apresentam folhas adaptadas para atrair, capturar e digerir pequenos animais que vão ser utilizados como fonte de nutrientes, geralmente compostos com nitrogênio, que estão ausentes ou em pequena quantidade no solo.
I. Poriphera: animais sem tecidos (parazoários), não apresentam aparelhos ou sistemas, e a digestão é exclusivamente intracelular. A água ambiental penetra na esponja pelos poros inalantes, percorre os canais do corpo e alcança uma grande cavidade central — o átrio ou espongiocele. Os coanócitos revestem o átrio e, em muitos casos, pequenas câmaras que ficam no trajeto dos canais. O agitar dos flagelos dessas células provoca um fluxo de circulação da água, puxando-a de fora para dentro do corpo. Os coanócitos, além disso, retêm as partículas alimentares trazidas pela água e as digerem em vacúolos digestivos. Os alimentos são conduzidos pelos flagelos até aos colarinhos dos coanócitos, onde vão ser fagocitados pela célula, ocorrendo depois uma digestão intracelular nos vacúlolos digestivos. Os produtos digeridos seguem para a mesogléia, enquanto que os resíduos são transportados para o espongiocele através de exocitose ou, é então, entregue aos amebócitos do mesênquima, a fim de estes concluam a digestão ou simplesmente o distribuam para todas as outras células.
II. Cnidaria ou Coelenterata: nestes animais existe apenas uma cavidade gastrovascular, com uma única abertura, que funciona simultaneamente como boca e ânus – sistema digestivo incompleto. A digestão inicia-se na cavidade com a ajuda de enzimas digestivas produzidas pelas células glandulares da gastroderme. As partículas semidigeridas são depois fagocitadas e a hidrólise é completada em vacúolos digestivos – digestão intra e extracelular. Os nutrientes difundem-se para o corpo, enquanto os resíduos são exocitados e devolvidos à cavidade gastrovascular, de onde vão para o exterior. Assim, a cavidade gastrovascular dos celenterados, além de ser sítio da digestão, permite a distribuição do alimento pelo corpo do cnidário, funcionando como um "esboço" de sistema circulatório.
III. Platyhelminthes: o tubo digestivo é incompleto (planárias) ou ausente (tênias); quando incompleto possui apenas com uma abertura, que é a boca, embora funcione igualmente como ânus. Nestes animais o intestino é muito ramificado, logo nenhuma célula está muito longe do tubo digestivo, aumentando a área de digestão e a distribuição eficaz dos alimentos. Existe alguma diferenciação, apesar de não existirem órgãos especializados, pois a faringe projeta-se para fora da boca, ajudando a ingestão de alimentos. Tal como nos cnidários, a digestão é intra e extracelular.
IV. Aschelminthes: o aparelho digestivo completo dos nematóides consta de um tubo simples, quase reto, dividido em três regiões: estomodeo, mesêntero e proctodeo. O estomodeo e o proctodeo são revestidos internamente por uma cutícula . O estomodeo consta de boca ou abertura oral, cavidade bucal ou stoma e esôfago. A boca, que pode variar de tamanho e forma, pode apresentar dentes ou lâminas. Primitivamente, a boca é circundada por seis lábios, dispostos lateralmente, sendo três de cada lado. A cada lábio corresponde uma papila sensorial. Nas formas parasitas, geralmente, os lábios fundem-se aos pares, daí resultando três lábios, um dorsal e dois ventro-laterais. Em outras formas, os seis lábios reduzem-se a dois ou desaparecem. Em continuação à boca segue-se a cavidade bucal, que pode ser cilíndrica, sub-globular ou rudimentar. No seu interior podem existir dentes, lâminas cortantes ou outras estruturas quitinosas, de número e localização variáveis. A camada cuticular espessa que reveste a cavidade bucal é a cápsula bucal. O esôfago, órgão parcial ou totalmente muscular, de forma cilíndrica ou claviforme, está revestido, até certa altura pela cutícula. Varia consideravelmente, tanto em estrutura como em função. Geralmente funciona como um órgão de sucção. O termo faringe tem sido usado por alguns nematologistas em lugar de esôfago, para outros entende-se por faringe uma região tubular de paredes musculares, nitidamente diferenciada, situada anteriormente ao esôfago. Em alguns ascarídeos, a parte posterior do esôfago dá lugar a um ou mais apêndices ou divertículos, chamados cecos esofagianos.
Em continuação ao esôfago segue-se o mesêntero ou intestino, que é um tubo geralmente achatado, quase reto, formado de uma camada epitelial simples apoiada sobre uma membrana basal. O intestino exerce um papel muito importante na absorção dos alimentos, provavelmente exerce também função secretora. Em várias espécies de nematóides foram descritas microvilosidades que aumentam a superfície do intestino. A parte terminal do aparelho digestivo dos nematóides é o proctodeo ou reto, que é forrado pela cutícula. Na fêmea, o reto termina pelo ânus, situado na face ventral e próximo da extremidade posterior. No macho, o reto reúne-se ao canal genital, para formar a cloaca.
V. Anellida: o tubo digestivo é completo, com duas aberturas terminais (boca anterior e ânus posterior) e está diferenciado em regiões especializadas, que realizam uma digestão extracelular. O tubo digestivo é formado por: boca; faringe – órgão musculoso, que suga os alimentos; esôfago – tubo de passagem; papo – zona de armazenagem de alimentos; moela – como o animal não tem dentes, este compartimento realiza a digestão mecânica, com a ajuda de pequenas pedras; intestino – local de realização da digestão química, bem como da absorção que é facilitada pelo aumento de área que a presença da prega dorsal tiflosole fornece; ânus.
VI. Arthropoda: o tubo digestivo é completo, geralmente reto, e vai desde uma boca ventral, na cabeça, até o ânus posterior. Possui compartimentos especializados. O intestino anterior relaciona-se principalmente com a ingestão, a trituração e o armazenamento dos alimentos e é revestido por cutícula. O intestino médio é o local da produção de enzimas digestivas, digestão química e absorção. O intestino posterior serve para absorção de água e para a preparação do material fecal e também é revestido por uma cutícula. O intestino médio contém uma ou mais evaginações na forma de cecos digestivos ( também chamados “glândulas digestivas”, “figado” ou “hepatopâncreas”, fígado e pâncreas fundidos em um único órgão, em diferentes classes e espécies de artrópodos).
VII. Mollusca: o sistema digestivo é completo. Alguns animais ( ostras e mexilhões ) filtram nas brânquias algas microscópicas, protozoários, bactérias etc. Os animais não filtradores (caracóis, lesmas, polvos, lulas) são herbívoros e carnívoros. Ralam o alimento utilizando uma placa de milhares de dentículos, situada na faringe, denominada rádula. Os moluscos possuem fígado como glândula anexa da digestão.
VIII. Echinodermata: o sistema digestivo é completo, exceto nos ofiúros, que por sua vez, ingerem os alimentos e depois da digestão eliminam os resíduos pelo mesmo orifício pelo qual entrou o alimento, localizando-se a boca na região ventral e o ânus na região dorsal.
A estrela-do-mar alimenta-se de moluscos, crustáceos e vermes tubícolas e outros invertebrados inclusive outros equinodermas. Algumas se alimentam de matéria orgânica em suspensão, animais pequenos e até mesmos peixes , que são capturados pelos pés e levados até a boca. Estrelas que se alimentam de bivalvos inserem seu estômago evertido (sai pela boca e envolve a presa) dentro da concha. O estômago secreta muco e os cecos hepáticos produzem enzimas para digerir o alimento. Outras estrelas que não evertem o estômago, ingerem pequenos organismos inteiros diretamente para o estômago.
Na zona oral do ouriço-do-mar (Echinoidea) podemos encontrar a lanterna de Aristóteles, um aparelho mastigador exclusivo desta classe: trata-se de um conjunto de 5 dentes, fazendo cada um parte de uma mandíbula interna; os ouriços alimentam-se de plantas marinhas, matéria animal morta e pequenos organismos.
IX. Entre os Chordata, os Cefalocordados (anfioxo) apresentam uma faringe perfurada que filtra pequenas partículas alimentícias. O alimento capturado na faringe, passa logo ao intestino.
Nos Urocordados (ascídias) a grande faringe perfurada está adaptada para a alimentação por filtração.
Nos Vertebrados o sistema digestivo é completo, ventral à coluna vertebral, com um fígado e pâncreas.
Chondrichthyes: o sistema digestivo apresenta uma boca ventral com fileiras de dentes revestidos de esmalte (desenvolvidos de escamas placóides). Os dentes estão implantados na carne e não na mandíbula, sendo substituídos continuamente a partir da parte traseira da boca, à medida que são perdidos. A forma dos dentes revela os hábitos alimentares dos animais, dentes pontiagudos e serrilhados nos tubarões, que os usam para agarrar e cortar, e pequenos e em forma de ladrilho nas raias, que os usam para partir as carapaças e conchas dos moluscos e crustáceos de que se alimentam no fundo.
O intestino apresenta válvula em espiral (para aumentar a área de absorção) e o fígado é grande e muito rico em óleo, o que confere grande flutuabilidade, chegando por vezes a compor 20% do peso do corpo. No entanto, em algumas espécies tal não é suficiente, pois se pararem de nadar, afundam.
O ânus abre para a cloaca; uma glândula retal prende-se dorsalmente na união do intestino com a cloaca, e tem por finalidade remover excessos de sais do sangue, o que a torna a estrutura mais importante na manutenção da concentração osmótica do animal.
Ostheichthyes: o aparelho digestivo é composto por boca, faringe, esôfago, estômago (com cecos pilóricos) e intestino. Ainda encontramos o fígado . A boca grande é terminal e frontal, rodeada de maxilas e mandíbulas distintas, onde estão implantados dentes cônicos e finos. Existem outros dentes, localizados nos primeiros arcos branquiais, úteis para prender e triturar o alimento. Na boca também existe uma pequena língua, ligada ao chão da cavidade e que ajuda nos movimentos respiratórios.
Amphibia: a boca geralmente apresenta dentes finos e língua protráctil cuja base frontal é fixa.
Reptilia: a boca é marginada por dentes tipicamente cônicos e implantados em alvéolos. Nas cobras, os ossos das mandíbulas estão soltos, podendo mover-se livremente uns em relação aos outros. O céu da boca têm dentes inclinados para trás, tal como as mandíbulas, o que permite segurar a presa enquanto esta é engolida. Em cobras venenosas existem as presas, dentes longos e ocos, capazes de injetar peçonha ao picar. As presas podem ser fixas (Naja e cobras marinhas) ou estar recolhidas para trás quando não estão em uso (cascavéis e víboras) mas em ambos os casos existe sempre um par de substituição logo atrás. A peçonha das cobras tem toxidade variada, alguns neurotóxicos (como o da Naja afetam o sistema nervoso e os centros respiratórios) ou hemotóxicos (como o das cascavéis e víboras, destrói as paredes dos capilares e os glóbulos vermelhos). Os lagartos não produzem veneno, embora a mordida de muitos deles (principalmente os de maior porte, como os dragões do Komodo) possa ser altamente infecciosa. A única exceção para esta regra é o Monstro de Gila, o único lagarto que produz peçonha (mortal para o Homem). A língua pode ser bífida e sair da boca fechada através de uma chanfradura da mandíbula.
Tal como em todos os vertebrados, nas Aves o tubo digestivo é completo, com dois órgãos anexos muito importantes – fígado e pâncreas. O tubo digestivo propriamente dito está dividido nos seguintes compartimentos: boca; esôfago; papo – dilatação a nível do esôfago, onde os alimentos são armazenados e amolecidos; proventrículo – primeira divisão do estômago, onde é segregado suco gástrico com enzimas; moela – segunda divisão do estômago, muito musculosa e que mói completamente os alimentos, com a ajuda de pedras e areia que o animal ingere; intestino – local onde decorre a absorção e onde são lançadas as secreções do fígado e pâncreas; ânus – localizado na cloaca, não abrindo diretamente para o exterior.
Os mamíferos necessitam de uma dieta nutritiva abundante pois os custos metabólicos da manutenção de temperatura são muito elevados, mas de acordo com o regime alimentar, o tubo digestivo pode apresentar adaptações específicas. Nos carnívoros o aparelho digestivo é simples pois as proteínas, lípidios e sais minerais que se encontram na carne não necessitam de digestão especializada.
Nos omnívoros o estômago é um saco de paredes musculosas e com glândulas produtoras de ácido clorídrico e enzimas. A parede do estômago não é destruída por estes fluidos devido à protecção da mucina, outra secreção gástrica.
As plantas contêm glícidos complexos, como a celulose. Assim, nos herbívoros o intestino é proporcionalmente maior, pois os vegetais são menos nutritivos e de digestão difícil. Dado que nenhum vertebrado produz enzimas capazes de hidrolisar este polissacárido muitos herbívoros albergam bactérias em diversos compartimentos, nomeadamente no ceco ou no próprio estômago, que nesse caso é subcompartimentado:
rúmen – onde se localizam as bactérias capazes de fermentar a celulose - que se reproduzem a uma taxa suficientemente elevada para compensar as que são "perdidas" com o deslocamento do bolo alimentar. O conteúdo deste compartimento (bactérias e material vegetal) é regurgitado regularmente para a boca, quando o animal, num local seguro, mastiga demoradamente o alimento ingerido apressadamente;
retículo - igualmente rico em bactérias fermentativas - recebe o bolo alimentar depois de remastigado na boca, permitindo uma maior área de ataque às celulases bacterianas;
omaso - presença da pasta alimentar contendo enorme quantidade de bactérias fermentativas - e é "concentrada", devido à reabsorção de água;
abomaso - compartimento correspondente ao estômago nos restantes mamíferos - secreta ácidos e proteases que completam a digestão da forma tradicional.
X. No homem: as substâncias simples da nossa dieta, como a água, os sais minerais e as vitaminas (exceto a vitamina B12), podem ser absorvidas ao longo do tubo digestivo sem sofrerem transformações. Contudo, as macromoléculas, como proteínas, gorduras e hidratos de carbono, têm de ser transformadas em moléculas pequenas e menos complexas para serem absorvidas.
Temos que considerar a regulação hormonal do funcionamento do sistema digestório. Alguns estímulos externos, como a visão do alimento, ou o cheiro, promovem a secreção salivar e do suco gástrico, preparando o sistema digestório para receber e processar o alimento. Outros estímulos consistem na presença do alimento em determinada porção do tubo digestório, promovendo a secreção de hormônios com funções estimulantes ou inibitórias.
Para os carboidratos, a digestão se dá pela transformação progressiva dos hidratos de carbono complexos, como o amido, em moléculas menores, de glicose. A glicose é a etapa final da digestão de todos os carboidratos. Ela será depois transportada pelo sangue em direção às células. A quantidade de glicose no sangue é medida pela glicemia.
O amido é digerido em duas etapas: sofrendo a ação da saliva e do suco pancreático. Assim, a digestão dos hidratos de carbono tem início na boca, graças à ação da saliva elaborada pelas glândulas salivares. A primeira enzima a agir sobre os carboidratos é a amilase salivar ou ptialina, que atua sobre o amido e a dextrina, transformando-os em maltose, um dissacarídeo, e este resultado caracteriza uma digestão incompleta. Em detalhes, afirmamos que pelo fato dos alimentos permanecerem durante pouco tempo na boca, a digestão aí é reduzida; a amilase salivar digere o amido (na presença da alfa-amilase, o amido será desdobrado em maltose+ polímeros), e outros polissacarídeos (como o glicogênio), reduzindo-os em moléculas de maltose (dissacarídeo). Os sais, na saliva, neutralizam substâncias ácidas e mantêm, na boca, um pH levemente ácido (6,7), ideal para a ação da ptialina. O alimento, que se transforma em bolo alimentar, é empurrado pela língua para o fundo da faringe, sendo encaminhado para o esôfago, impulsionado pelas ondas peristálticas, levando entre 5 e 10 segundos para percorrer o esôfago. Entra em ação um mecanismo para fechar a laringe, evitando que o alimento penetre nas vias respiratórias. Quando a cárdia (anel muscular, esfíncter) se relaxa, permite a passagem do alimento para o interior do estômago.
No estômago, o bolo alimentar ainda impregnado de saliva, sofre a ação da ptialina, com o desdobramento de alguma parte de amido. Entretanto, com a acidificação do meio pelo ácido clorídrico do suco gástrico, a amilase salivar é rapidamente inativada inibindo a hidrólise do amido. Não há, no estômago, enzima para digerir amido, só a alfa amilase que foi com a deglutição; a digestão continua no estômago até pH 4,0 (até pH 4,0 a alfa-amilase é ativa, ao chegar a esse pH, ou menor, ela fica inativa). Para ocorrer esse processo demora mais ou menos 1 hora.
Quando o bolo alimentar chega ao duodeno, sofre a ação dos suco intestinais, que são uma mistura do suco pancreático e do suco entérico, elaborado pelas células do intestino delgado. Uma amilase de origem pancreática continua o desdobramento do amido, que escapou da digestão bucal e gástrica, em maltose; no intestino, particularmente no duodeno, a alfa-amilase pancreática (+ concentrada que a salivar, mas com a mesma constituição química) realizará 50 a 80% da digestão do amido. A alfa-amilase pancreática é produzida no pâncreas e lançada no duodeno. Também no intestino delgado, há três enzimas no suco entérico: a maltase, a sacarase ou invertase, e a lactase, as quais continuam as digestões dos carboidratos. A maltase desdobra a maltose em duas moléculas de glicose; a sacarase transforma a sacarose (a qual atravessa a boca e o estômago sem sofrer ação digestiva) em uma molécula de glicose e outra de frutose; quando há ingestão de lactose, a qual não sofre digestão bucal nem gástrica, a lactase a transforma em uma molécula de glicose e outra de galactose. Sob a forma desses monossacarídeos é que os carboidratos são absorvidos.
Digerir proteínas é desdobrá-las em aminoácidos e há mais tipos de aminoácidos nas proteínas do que açúcares simples nos carboidratos. As proteínas são formadas por reação de desidratação que une o grupo carboxílico terminal de um aminoácido ao grupo amino terminal de outro.
Enzimas (peptidases) que digerem as proteínas reconhecem aminoácidos específicos ou classes específicas de aminoácidos e atacam a ligação peptídica entre eles, no processo denominado hidrólise. Alimentos como carne, ovos, e grãos contêm grandes moléculas de proteínas que precisam ser digeridas antes de serem utilizadas para reparar e construir os tecidos orgânicos. No estômago, produzem-se várias proteases que, no seu conjunto, recebem o nome de pepsina. Por ação da pepsina, as proteínas transformam-se numa mistura de pequenos fragmentos peptídicos e de aminoácidos. A pepsina só é ativa em *pH baixo, menor que 3, em pH acima de 5 é inativada, e sua principal função é digerir colágeno. O alimento é misturado com o suco gástrico (solução rica em ácido clorídrico e em enzimas, a pepsina e a renina). No estômago a liberação de ácido clorídrico é feita através do estímulo da célula (parietal) produtora de ácido que está presente apenas na porção do corpo e fundo gástrico. Este estímulo é feito através da gastrina, histamina e acetil-colina. A pepsina decompõe as proteínas em peptídeos pequenos. A renina, produzida em grande quantidade no estômago de recém-nascidos, separa o leite em frações líquidas e sólidas; a renina age sobre a caseína, uma das proteínas do leite, sendo produzida pela mucosa gástrica durante os primeiros meses de vida e seu papel é o de flocular a caseína, facilitando a ação de outras enzimas proteolíticas.
Apesar de estarem protegidas por uma densa camada de muco, as células da mucosa estomacal são continuamente lesadas e mortas pela ação do suco gástrico. Por isso, a mucosa está sempre sendo regenerada. Estima-se que nossa superfície estomacal seja totalmente reconstituída a cada três dias.
O estômago produz cerca de três litros de suco gástrico por dia. O alimento pode permanecer no estômago por até quatro horas ou mais e se mistura ao suco gástrico auxiliado pelas contrações da musculatura estomacal. O bolo alimentar transforma-se em uma massa acidificada e semilíquida, o quimo. Passando por um esfíncter muscular (o piloro), o quimo vai sendo, aos poucos, liberado no intestino delgado, onde ocorre a parte mais importante da digestão. O intestino delgado é um órgão bastante longo, tem um comprimento de mais ou menos seis metros; isto favorece à ação das enzimas que pode ser mais demorada. É dividido anatomicamente em três porções: duodeno, jejuno e íleo. Considera-se como duodeno a região inicial do intestino delgado, a partir do esfíncter pilórico, que é o espessamento da musculatura lisa e controla a passagem do alimento do estômago para o resto do trato digestivo. É no duodeno onde são descarregadas as enzimas, água e íons bicarbonato produzidos pelo pâncreas, através do ducto pancreático; o bicarbonato serve para neutralizar o pH ácido do quimo que chega do estômago para o duodeno.
Substâncias ácidas provocam no duodeno (e também no jejuno) a secreção de um hormônio chamado secretina, que também vai estimular a produção de suco pancreático, quando chegar aos ácidos do pâncreas através da corrente sangüínea. Quando uma substância como a caseína (proteína encontrada especialmente no leite e que constitui o principal componente do queijo) chega ao duodeno, começa a ocorrer no intestino a secreção de pancreozimina, estimulante do suco pancreático. Isso porque a caseína não é solúvel em água, mas sim em meio alcalino, como o que é proporcionado pelo suco pancreático.
As pepsinas gástricas são inativadas quando a acidez do quimo que chega ao duodeno é neutralizada pelas secreções pancreáticas e duodenais. As peptidases gástricas começam a tarefa de digestão das proteínas, mas, 85% das ligações peptídicas tem de ser hidrolisadas no intestino delgado pelas enzimas proteolíticas pancreáticas e intestinais da borda em escova.
O pâncreas exócrino produz enzimas digestivas, em estruturas reunidas denominadas ácinos. Os ácinos pancreáticos estão ligados através de finos condutos, por onde sua secreção é levada até um condutor maior, que desemboca no duodeno, durante a digestão. Cerca de 50% das proteínas ingeridas são digeridos por enzimas secretadas pelo pâncreas. Ambas as classes de peptidases (endo e exopeptidases) estão presentes nas secreções pancreáticas, e agem como enzimas livres e misturam-se ao quimo. A tripsina e a quimotripsina são exemplos de endopeptidases secretadas pelo pâncreas. O *suco pancreático contém o tripsinogênio e o quimiotripsinogênio, formas inativas em que são secretadas as enzimas proteolíticas tripsina e quimiotripsina. Sendo produzidas na forma inativa, as proteases não digerem suas células secretoras. Na luz do duodeno, o tripsinogênio entra em contato com a enteroquinase, enzima secretada pelas células da mucosa intestinal, convertendo-se me tripsina, que por sua vez contribui para a conversão do precursor inativo quimiotripsinogênio em quimiotripsina, enzima ativa. A tripsina e a quimiotripsina hidrolisam polipeptídios, transformando-os em oligopeptídeos. A pepsina, a tripsina e a quimiotripsina rompem ligações peptídicas específicas ao longo das cadeias de aminoácidos.
A mucosa do intestino delgado secreta *o suco entérico, produzido pelas criptas de Lieberkühn, solução rica em enzimas e de pH aproximadamente neutro. Uma dessas enzimas é a enteroquinase. No suco entérico também há enzimas, erepsina, aminopeptidase e dipeptidase, enzimas proteolíticas que transformam os peptídeos em aminoácidos, isto é, fazem a digestão final das proteínas. que dão seqüência à hidrólise das proteínas: os oligopeptídeos sofrem ação das peptidases, resultando em aminoácidos.
A digestão das gorduras ocorre principalmente no intestino delgado; a lipase gástrica, estomacal, é responsável somente por 10% da digestão das gorduras.
O intestino delgado apresenta várias estruturas que atuam em conjunto para aumentar a área de absorção de alimentos. Observando-se a olho nu é possível identificar uma série de dobras da mucosa e da submucosa. Em um nível microscópico inferior, observam-se pequenos vilos, dobras da mucosa com a forma de dedos. Em nível celular, a superfície apical das células intestinais apresenta microvilos, os quais também são fundamentais para o aumento da área de absorção. Na base das vilosidades intestinais, encontramos glândulas intestinais ou de Lieberkühn. Além das células intestinais com microvilos, observamos na mucosa intestinal, células caliciformes mucosecretoras. Nas glândulas intestinais, observam-se ainda células de Paneth, produtoras de lisozima, células enteroendócrinas, produtoras de hormônios polipeptídicos, além de células M, apresentadoras de antígenos. O epitélio intestinal apóia-se sobre uma lâmina própria de conjuntivo frouxo e uma submucosa que no duodeno apresenta glândulas duodenais ou de Brünner. A submucosa intestinal apresenta grande quantidade de linfócitos, que no íleo se agrupam formando nódulos, as placas de Peyer. A camada muscular do intestino é formada por uma camada circular interna e uma camada longitudinal externa. Com exceção de pequena porção do duodeno, o intestino delgado é envolvido externamente por uma serosa.
A digestão do quimo, proveniente do estômago, ocorre predominantemente no duodeno e nas primeiras porções do jejuno, com a participação da bílis, do suco pancreático e do suco entérico. O primeiro problema que tem de ser superado para a digestão dos lipídios é a decomposição das grandes gotículas lipídicas em gotas menores. Isso aumenta a área de superfície para o ataque das enzimas que estão na fase aquosa. As secreções biliares contêm uma classe de moléculas que reduzem o tamanho dos agregados lipídicos, atuando de forma bem parecida à maneira como os detergentes "cortam" a gordura. O processo denominado "emulsificação", é mediado pelos sais biliares derivados do colesterol. Bile é formada continuamente no fígado e armazenada na vesícula biliar que se esvazia com intermitência no intestino delgado. Os ácidos biliares produzidos pelo fígado atuam diretamente sobre as gorduras como detergentes, transformando-as em moléculas menores; chamamos esta ação de emulsão das gorduras, o que torna a área exposta à ação das enzimas cerca de 1000x maior, e mais eficaz a ação das lipases presentes nos sucos pancreático e entérico. Os sais biliares ligam-se a porções de gorduras para que elas não se juntem novamente e fiquem cada vez menores. As lipases atuam nas gorduras emulsionadas as transformando em ácidos graxos e glicerol.
* No suco pancreático também encontramos as nucleases pancreáticas que atuam sobre os ácidos nucléicos, DNA e RNA, gerando nucleotídios. No suco entérico encontramos nucleotidases que atuam sobre os nucleotídios gerando nucleosídios e fosfatos.
O intestino grosso é a porção final do tubo digestivo, e tem como funções absorver a maior parte da água e dois sais ainda remanescentes no bolo alimentar e transformá-lo nas fezes.
Um comentário:
Igor, gostei muito do assunto, mas não colocou a fonte, onde encontrou tais informações?
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