Portaria publicada ontem estabelece dois dias de provas, com 10 horas no total; inscrições começam 15 de junho
Elida Oliveira escreve para “O Estado de SP”:
O novo Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) terá neste ano 180 questões, divididas em quatro áreas de conhecimento. A previsão inicial era de que a prova tivesse 200 questões. Serão dois dias de exame, com dez horas no total. Até o ano passado, o aluno tinha cinco horas em um único dia para fazer a prova.
As definições sobre o Enem deste ano, já no novo formato definido pelo Ministério da Educação, foram publicadas ontem em portaria (nº 109) no Diário Oficial da União. Pelas regras, a participação na prova também servirá como certificação de conclusão do ensino médio.
Além de ser usado para a seleção do ProUni - programa que distribui bolsas de estudo a alunos carentes na rede particular de ensino superior -, o novo Enem vai substituir o vestibular de algumas universidades federais. Pelo menos 22 das 55 já anunciaram que usarão o exame como forma única de ingresso dos vestibulandos. Outras 14 federais divulgaram que a nota do Enem será adotada em parte do processo seletivo.
Podem prestar o exame alunos que estejam no terceiro ano do ensino médio e os que já concluíram os estudos em anos anteriores, além dos que cursaram a Educação de Jovens e Adultos (EJA).
Críticas
Inicialmente, o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), responsável pela elaboração da prova, previa aplicar 200 questões, mas reduziu para 180. "Recebemos muitas críticas com este modelo e consideramos que, ao excluir cinco questões de cada área, não perderíamos na análise do desempenho do estudante", diz Reynaldo Fernandes, presidente do Inep.
Porém, a alteração do número de questões não foi suficiente para que alunos e coordenadores de cursinhos considerassem o exame menos cansativo.
Para o coordenador-geral do Anglo, Nicolau Marmo, o prazo continua apertado. "Colocaram as duas provas de maior peso no mesmo dia. Pode ser que não haja tempo de o aluno fazer a redação", diz ele.
A redação será aplicada no segundo dia de prova juntamente com 90 questões das áreas de linguagens e de matemática.
Para o vestibulando Felipe Hernandes, de 21 anos, aluno do curso Etapa, o exame continua cansativo. "O modelo de questões longas exige muita concentração e raciocínio."
Já a aluna Maiara Palmieri, de 17 anos, diz que, apesar de a alteração ter sido pequena, ela ajuda. "As 200 questões seriam muito cansativas, mas ter 20 a menos alivia." Dizendo ter facilidade na área de humanas,Thales de Almeida Cervi, de 18 anos, acha que conseguirá ter mais tempo para resolver as questões de matemática.
Participação
Neste ano, o Inep estima receber cerca de 6 milhões de inscritos, 2 milhões a mais do que em 2008. O número está baseado na procura de estudantes da rede particular de ensino, interessados em concorrer às vagas das universidade federais.
As inscrições começam no dia 15 de junho e só poderão ser feitas pela internet. As provas serão aplicadas em 1.619 municípios brasileiros, considerados polos regionais.
De acordo com o Inep, o Enem 2009 seguirá a mesma logística do ano anterior, e não há previsão de transporte escolar para deslocar os alunos que farão a prova em outras cidades. A aplicação do exame será feita por uma empresa contratada por licitação. "No último Enem tivemos 270 mil pessoas envolvidas (trabalhando) no exame. O Inep não tem um quadro de funcionários deste tamanho", diz Fernandes.
As provas, que serão aplicadas nos dias 3 e 4 de outubro, terão caráter voluntário. Somente a partir do próximo ano é que os Estados podem definir pela obrigatoriedade do exame. De acordo com o presidente do Inep, as notas das provas objetivas serão divulgadas no fim de novembro e início de dezembro. Na segunda quinzena de janeiro, os participantes receberão via Correios o boletim individual de resultados com o desempenho em cada grupo de provas.
Haverá cinco notas - uma para cada área e outra para a redação. Cada universidade que adotou o Enem poderá usar uma combinação destas notas ou a soma geral para avaliar o desempenho do estudante.
Como será
Data das provas: 3 e 4 de outubro. No sábado, das 13h às 17h30, e no domingo, das 13h às 18h30
Conteúdo: Serão 180 questões divididas em 4 áreas. No primeiro dia os temas são ciências da natureza e suas tecnologias e ciências humanas e suas tecnologias. No segundo dia, linguagens, códigos e suas tecnologias, matemática e suas tecnologias e redação
Inscrição: Poderá ser feita a partir do dia 15 de junho. Será aceita só pela internet, em http://enem.inep.gov.br/inscricao
Taxa: R$ 35,00
Candidatos isentos da taxa: Alunos da rede pública e participantes do Encceja de anos anteriores. No formulário de inscrição, o estudante deve solicitar a isenção
Locais de prova: Serão 1.619 municípios em todos os Estados brasileiros
sexta-feira, 29 de maio de 2009
segunda-feira, 18 de maio de 2009
Tem alguém lá fora?, artigo de Marcelo Gleiser
“Se não procurarmos, jamais encontraremos vida extraterrestre”
Marcelo Gleiser é professor de física teórica no Dartmouth College, em Hanover (EUA), e autor do livro "A Harmonia do Mundo". Artigo publicado na “Folha de SP”:
Na semana passada, participei de uma conferência no Space Telescope Institute, a casa do Telescópio Espacial Hubble. Apropriadamente, na segunda-feira o ônibus espacial Atlantis voou em direção ao telescópio-satélite para instalar novas câmeras numa última viagem de revisão e reparos. O venerável instrumento, um dos mais famosos da história da tecnologia, será aposentado em 2014, após 24 anos de serviço.
A missão da Atlantis e seus sete astronautas é das mais arriscadas até hoje, devido à quantidade de lixo espacial na mesma órbita do Hubble, a uma altitude aproximada de 500 quilômetros. Técnicos da Nasa estimam a probabilidade de colisão com um micrometeoro (pedaços de satélites abandonados ou dos dois que colidiram em fevereiro) em 1 em 229 - relativamente alta. As diretrizes de segurança da Nasa estipulam uma probabilidade mínima de 1 em 200.
O trânsito espacial em torno da Terra está ficando bem congestionado. Espero que o Hubble consiga sobreviver mais cinco anos.
A conferência tratava de um tópico um tanto popular, a busca por vida no Universo. Vou tratar de assuntos diversos em outros domingos, mas hoje queria começar por uma das palestras finais, apresentada por Jill Tarter, uma das cientistas líder do projeto Seti, a busca por inteligência extraterrestre.
Quem viu o filme "Contato", inspirado no romance homônimo de Carl Sagan, deve lembrar da heroína do filme, interpretada pela atriz Jodie Foster, que tentava "ouvir" transmissões de rádio feitas por civilizações tecnologicamente avançadas vivendo em planetas distantes.
Do mesmo modo que nossos rádios captam ondas emitidas por antenas transmissoras, se apontarmos uma antena bem sensível na direção de um planeta poderíamos, em princípio, ouvir as transmissões feitas de lá. Claro, eles também podem estar na escuta...
Na prática, essa busca é extremamente complexa. As chances de sucesso são quase nulas. A transmissão tem de ser na nossa direção, com uma potência suficiente para que nossas antenas possam captá-la, e numa frequência em que estejamos sintonizados.
Como sabemos dos nossos rádios, para ouvirmos algo temos de sintonizar numa estação, por exemplo, 98,5 MHz, o que significa uma onda de rádio com 98,5 milhões de ciclos por segundo. Qual seria a estação dos ETs? Existe essencialmente um número infinito de frequências. Escolher as mais "prováveis" envolve um jogo de adivinhação muito subjetivo.
São já 50 anos de Seti e até agora nada. Isso não surpreende a dra. Tarter. "Estamos apenas engatinhando em nossa busca. Nossa civilização é muito jovem, temos poucos recursos. Por outro lado, se não procurarmos, jamais encontraremos". Verdade.
Mesmo que a chance de sucesso seja muito pequena, imagine se, um dia, os cientistas do Seti captam um sinal que é claramente produzido por outra civilização. Alguns acham que tal descoberta seria a mais importante da história, que tudo mudaria: não só não seríamos o único planeta com vida, mas teríamos companhia tecnológica.
Muito provavelmente, dada a tenra idade da nossa tecnologia, os ETs estariam muito na nossa frente. Quem sabe nos ajudariam a resolver nossos problemas de fome, doenças, efeito estufa... do jeito que as coisas andam, acho melhor nós mesmos cuidarmos dos nossos assuntos.
Enquanto isso, quem quiser ajudar pode doar o tempo em que seu computador está parado para que cientistas do Seti possam destrinchar os bilhões de sinais que recebem. Basta ir ao site setiathome.ssl.berkeley.edu. Quem sabe o sinal não chegará ao seu computador?
(Folha de SP, 18/5)
Marcelo Gleiser é professor de física teórica no Dartmouth College, em Hanover (EUA), e autor do livro "A Harmonia do Mundo". Artigo publicado na “Folha de SP”:
Na semana passada, participei de uma conferência no Space Telescope Institute, a casa do Telescópio Espacial Hubble. Apropriadamente, na segunda-feira o ônibus espacial Atlantis voou em direção ao telescópio-satélite para instalar novas câmeras numa última viagem de revisão e reparos. O venerável instrumento, um dos mais famosos da história da tecnologia, será aposentado em 2014, após 24 anos de serviço.
A missão da Atlantis e seus sete astronautas é das mais arriscadas até hoje, devido à quantidade de lixo espacial na mesma órbita do Hubble, a uma altitude aproximada de 500 quilômetros. Técnicos da Nasa estimam a probabilidade de colisão com um micrometeoro (pedaços de satélites abandonados ou dos dois que colidiram em fevereiro) em 1 em 229 - relativamente alta. As diretrizes de segurança da Nasa estipulam uma probabilidade mínima de 1 em 200.
O trânsito espacial em torno da Terra está ficando bem congestionado. Espero que o Hubble consiga sobreviver mais cinco anos.
A conferência tratava de um tópico um tanto popular, a busca por vida no Universo. Vou tratar de assuntos diversos em outros domingos, mas hoje queria começar por uma das palestras finais, apresentada por Jill Tarter, uma das cientistas líder do projeto Seti, a busca por inteligência extraterrestre.
Quem viu o filme "Contato", inspirado no romance homônimo de Carl Sagan, deve lembrar da heroína do filme, interpretada pela atriz Jodie Foster, que tentava "ouvir" transmissões de rádio feitas por civilizações tecnologicamente avançadas vivendo em planetas distantes.
Do mesmo modo que nossos rádios captam ondas emitidas por antenas transmissoras, se apontarmos uma antena bem sensível na direção de um planeta poderíamos, em princípio, ouvir as transmissões feitas de lá. Claro, eles também podem estar na escuta...
Na prática, essa busca é extremamente complexa. As chances de sucesso são quase nulas. A transmissão tem de ser na nossa direção, com uma potência suficiente para que nossas antenas possam captá-la, e numa frequência em que estejamos sintonizados.
Como sabemos dos nossos rádios, para ouvirmos algo temos de sintonizar numa estação, por exemplo, 98,5 MHz, o que significa uma onda de rádio com 98,5 milhões de ciclos por segundo. Qual seria a estação dos ETs? Existe essencialmente um número infinito de frequências. Escolher as mais "prováveis" envolve um jogo de adivinhação muito subjetivo.
São já 50 anos de Seti e até agora nada. Isso não surpreende a dra. Tarter. "Estamos apenas engatinhando em nossa busca. Nossa civilização é muito jovem, temos poucos recursos. Por outro lado, se não procurarmos, jamais encontraremos". Verdade.
Mesmo que a chance de sucesso seja muito pequena, imagine se, um dia, os cientistas do Seti captam um sinal que é claramente produzido por outra civilização. Alguns acham que tal descoberta seria a mais importante da história, que tudo mudaria: não só não seríamos o único planeta com vida, mas teríamos companhia tecnológica.
Muito provavelmente, dada a tenra idade da nossa tecnologia, os ETs estariam muito na nossa frente. Quem sabe nos ajudariam a resolver nossos problemas de fome, doenças, efeito estufa... do jeito que as coisas andam, acho melhor nós mesmos cuidarmos dos nossos assuntos.
Enquanto isso, quem quiser ajudar pode doar o tempo em que seu computador está parado para que cientistas do Seti possam destrinchar os bilhões de sinais que recebem. Basta ir ao site setiathome.ssl.berkeley.edu. Quem sabe o sinal não chegará ao seu computador?
(Folha de SP, 18/5)
Suplementos Vitamínicos: abra o olho!!!
Estudo publicado na Pnas indica que consumo de vitaminas em suplementos pode reduzir benefícios da prática de exercícios físicos
O consumo de suplementos vitamínicos pode cortar parte dos efeitos benéficos para a saúde da prática de exercícios físicos, de acordo com estudo publicado na revista Proceedings of the National Academy of Sciences.
Os exercícios físicos ajudam a aumentar a sensibilidade do organismo à insulina por meio da produção de oxigênio reativo – ou radicais livres, moléculas instáveis liberadas pela queima de oxigênio no processo de respiração celular.
Os radicais livres são importantes no combate a infecções, mas, caso estejam presente em excesso – em situação conhecida como estresse oxidativo –, são prejudiciais, podendo levar ao desenvolvimento de doenças.
Para equilibrar a ação dessas moléculas entram em ação os antioxidantes, produzidos pelo próprio organismo ou ingeridos por meio de alimentação.
Estima-se que os radicais livres danifiquem as células e acelerem o processo de envelhecimento. Por outro lado, tais compostos são necessários para prevenir o dano celular após exercícios físicos.
Michael Ristow, da Universidade de Jena, na Alemanha, e colegas compararam a sensibilidade à insulina e a quantidade de oxigênio reativo produzido em homens que se exercitaram e receberam doses diárias de vitaminas C (1 g) e E (400 mg) com outros voluntários que passaram por atividades físicas, mas não ingeriram antioxidantes na forma de suplementos.
Segundo o estudo, aqueles que consumiram os suplementos não apresentaram alterações em seus níveis de oxigênio reativo, enquanto os demais tiverem um aumento na formação de radicais livres.
Após quatro semanas de testes, “o estresse oxidativo induzido pelos exercícios melhorou a sensibilidade à insulina e causou uma resposta adaptativa por meio da promoção da capacidade de defesa antioxidante”, descreveram os autores.
Mas a melhoria ocorreu apenas no grupo que não ingeriu antioxidantes em suplementos. Segundo os pesquisadores, os radicais livres provavelmente têm um efeito benéfico ao aumentar a sensibilidade à insulina, efeito que é bloqueado pelo consumo de vitaminas antioxidantes.
O artigo Antioxidants prevent health-promoting effects of physical exercise in humans, de Michael Ristow e outros, poderá ser lido em breve por assinantes da Pnas em http://www.pnas.org
(Agência Fapesp, 18/5)
O consumo de suplementos vitamínicos pode cortar parte dos efeitos benéficos para a saúde da prática de exercícios físicos, de acordo com estudo publicado na revista Proceedings of the National Academy of Sciences.
Os exercícios físicos ajudam a aumentar a sensibilidade do organismo à insulina por meio da produção de oxigênio reativo – ou radicais livres, moléculas instáveis liberadas pela queima de oxigênio no processo de respiração celular.
Os radicais livres são importantes no combate a infecções, mas, caso estejam presente em excesso – em situação conhecida como estresse oxidativo –, são prejudiciais, podendo levar ao desenvolvimento de doenças.
Para equilibrar a ação dessas moléculas entram em ação os antioxidantes, produzidos pelo próprio organismo ou ingeridos por meio de alimentação.
Estima-se que os radicais livres danifiquem as células e acelerem o processo de envelhecimento. Por outro lado, tais compostos são necessários para prevenir o dano celular após exercícios físicos.
Michael Ristow, da Universidade de Jena, na Alemanha, e colegas compararam a sensibilidade à insulina e a quantidade de oxigênio reativo produzido em homens que se exercitaram e receberam doses diárias de vitaminas C (1 g) e E (400 mg) com outros voluntários que passaram por atividades físicas, mas não ingeriram antioxidantes na forma de suplementos.
Segundo o estudo, aqueles que consumiram os suplementos não apresentaram alterações em seus níveis de oxigênio reativo, enquanto os demais tiverem um aumento na formação de radicais livres.
Após quatro semanas de testes, “o estresse oxidativo induzido pelos exercícios melhorou a sensibilidade à insulina e causou uma resposta adaptativa por meio da promoção da capacidade de defesa antioxidante”, descreveram os autores.
Mas a melhoria ocorreu apenas no grupo que não ingeriu antioxidantes em suplementos. Segundo os pesquisadores, os radicais livres provavelmente têm um efeito benéfico ao aumentar a sensibilidade à insulina, efeito que é bloqueado pelo consumo de vitaminas antioxidantes.
O artigo Antioxidants prevent health-promoting effects of physical exercise in humans, de Michael Ristow e outros, poderá ser lido em breve por assinantes da Pnas em http://www.pnas.org
(Agência Fapesp, 18/5)
Terapia gênica protege macacos do vírus da Aids
Nova técnica fez células musculares produzirem anticorpos contra o parasita. Abordagem foi usada em nove animais, seis dos quais nem mesmo contraíram o vírus; testes em humanos ainda demoram, diz americano Já que o titular não funciona, a gente cria um reserva. É essa a filosofia de uma nova técnica de combate ao vírus da Aids desenvolvida por cientistas americanos. Sem poderem contar com a defesa natural do corpo, arrasada pelo HIV, eles usaram as células dos músculos para produzirem anticorpos contra o parasita. O truque deu certo - pelo menos em macacos. A abordagem foi criada pelo grupo de Philip Johnson, da Escola de Medicina da Universidade da Pensilvânia. Seus resultados foram publicados ontem no periódico científico "Nature Medicine". Johnson e seus colegas conseguiram transformar células musculares de nove macacos em fábricas de anticorpos eficazes contra o SIV, o vírus da imunodeficiência símia. Todos foram protegidos contra a Aids, e seis deles tiveram proteção total contra a infecção. Isso não quer dizer que uma vacina contra a Aids esteja próxima, afirmou Johnson. Anos de pesquisa podem ser necessários antes que o novo conceito seja testado em humanos. No entanto, o trabalho "mostra que há uma luz no fim do túnel", nas palavras de Beatrice Hahn, estudiosa da Aids da Universidade do Alabama (EUA). "Isso mostra que pensar fora da caixa é uma boa ideia", afirmou a cientista, que não participou do estudo. Uma luz no fim do túnel já é um grande avanço para uma área de pesquisas que só vê frustrações desde 1983, quando o HIV foi isolado. Centenas de vacinas já foram testadas em animais. Duas chegaram a testes com humanos em grande escala. Todas foram um fiasco tão grande que um dos pioneiros da área, David Baltimore, chegou a dizer que não havia esperança. Isso porque o HIV é extremamente mutante e ataca justamente as célula encarregadas da produção de anticorpos. É aqui que entra a estratégia de Johnson e colegas, que usa artilharia pesada - engenharia genética - e criatividade. Já que não podem contar com o trabalho do sistema imune, os pesquisadores deram um jeito de transferir a função de produzir anticorpos a outras células, as musculares. E, já que é virtualmente impossível estimular as defesas do corpo a produzirem naturalmente anticorpos contra as inúmeras versões do vírus, o grupo americano resolveu bolar os próprios anticorpos. Por engenharia genética, eles construíram uma série de moléculas chamadas imunoadesinas, que combinam parte de uma proteína que se liga às células e parte de um anticorpo. Três tipos diferentes dessas "quimeras" foram então empacotados em vírus adenoassociados, que, por sua vez, foram injetados diretamente nos músculos dos macacos. Quatro semanas depois, os animais foram infectados com o SIV. Seis outros não receberam a vacina e adoeceram após a infecção - quatro deles tiveram Aids tão grave que precisaram ser mortos. Apenas três dos nove que tomaram a vacina contraíram o vírus. "Há alguns anos eu concluí que o HIV era diferente de todos os outros vírus e que abordagens tradicionais não dariam certo", disse Johnson. O grupo quer iniciar testes em humanos nos próximos anos. (Folha de SP, 18/5) |
Que pandemia?, artigo de Marcelo Leite
“A gripe de 1957 matou 70 mil americanos e 4 milhões noutras partes do mundo”
Marcelo Leite é autor de "Folha Explica Darwin" (Publifolha, 2009) e do livro de ficção infanto-juvenil "Fogo Verde" (Editora Ática, 2009), sobre biocombustíveis e florestas. Artigo publicado na “Folha de SP”:
Bastaram três semanas para a pandemia de gripe suína - perdão, influenza A (H1N1) - chegar, aterrorizar e sumir. Ao menos das manchetes. Terá servido, porém, para ajudar a vender um livro interessante, "Vacinado", de Paul A. Offit (Ideia e Ação, 2008, 256 págs., R$ 39,90).
O exemplar de divulgação baixou em minha mesa no auge da epidemia midiática. O subtítulo era tentador: "A luta de um homem para vencer as doenças mais mortais do mundo". Pulei as duas introduções e fui direto ao primeiro capítulo: "Meu Deus: É a Pandemia, Ela Chegou!"
Ali aprendi que pandemias de gripe são mazelas recorrentes da humanidade. Nos últimos três séculos, houve pelo menos dez delas. Mas só uma foi prevista - antes da de 2009, a que não houve (não até agora, nem com os horrores aventados na imprensa).
O herói da história é Maurice Hilleman, por coincidência nascido em 1919, durante a maior e mais mortífera pandemia de gripe de todos os tempos. Matou, provavelmente, mais de 50 milhões de pessoas.
Oitavo filho de uma família de camponeses de origem alemã de Montana (EUA), órfão de mãe, Hilleman foi criado por tios. Escapou da morte mais de uma vez, quando criança. Até aí, só uma história bem contada.
Da maneira mais improvável, Hilleman chegou à obscura Universidade Estadual de Montana, onde estudou química e microbiologia. Saltou dali para um doutorado na prestigiosa Universidade de Chicago. Trabalhou depois na farmacêutica Squibb, onde aprendeu a fabricar vacinas, e terminou no Instituto Militar de Pesquisas Médicas Walter Reed, em 1948.
Nove anos depois, abril de 1957, Hilleman lia o jornal "The New York Times" em sua sala do Walter Reed quando topou com uma reportagem sobre gripe aviária que grassava em Hong Kong. Dez por cento da população afetada, filas de 20 mil pessoas nas portas dos hospitais. "Meu Deus: é a pandemia, ela chegou!" - disse Hilleman a si mesmo, segundo Offit.
O pesquisador telegrafou para conhecidos no Japão pedindo informações. Acabou localizando um jovem da Marinha japonesa que passara por Hong Kong e adoecera. Um oficial médico fez com que o marujo gargarejasse com salmoura e enviou o produto para Hilleman. Apenas um mês depois de ler o artigo no jornal, recebia o preparado, e começou o trabalho de verificar se era um vírus com potencial pandêmico. O processo era para lá de laborioso.
Primeiro, tinha de cultivar o influenza em um ovo incubado de galinha, abrindo uma janelinha na casca e injetando algumas gotas do gargarejo. Depois de assim multiplicadas as partículas virais, passou a testá-las com o soro sanguíneo de soldados estocado no Walter Reed.
Não encontrou nenhum que tivesse anticorpos contra o vírus. Usou em seguida amostras de soro de civis. Nada. Certo de que era um agente ameaçador, contra o qual a maioria das pessoas não teria defesa, enviou amostras para a recém-criada Organização Mundial da Saúde, para distribuição aos laboratórios do mundo. Distribuiu uma nota à imprensa avisando da iminente pandemia, mas nenhum jornal se interessou (outros tempos).
Em questão de meses se confirmou que só tinham anticorpos contra o vírus umas poucas pessoas da Holanda e dos Estados Unidos. Eram sobreviventes da pandemia de 1889-1890, que vitimara 6 milhões.
Em junho, os primeiros lotes de vacina eram produzidos. Mesmo assim, a pandemia de 1957 matou 70 mil americanos e 4 milhões noutras partes do mundo.
(Folha de SP, 18/5)
Marcelo Leite é autor de "Folha Explica Darwin" (Publifolha, 2009) e do livro de ficção infanto-juvenil "Fogo Verde" (Editora Ática, 2009), sobre biocombustíveis e florestas. Artigo publicado na “Folha de SP”:
Bastaram três semanas para a pandemia de gripe suína - perdão, influenza A (H1N1) - chegar, aterrorizar e sumir. Ao menos das manchetes. Terá servido, porém, para ajudar a vender um livro interessante, "Vacinado", de Paul A. Offit (Ideia e Ação, 2008, 256 págs., R$ 39,90).
O exemplar de divulgação baixou em minha mesa no auge da epidemia midiática. O subtítulo era tentador: "A luta de um homem para vencer as doenças mais mortais do mundo". Pulei as duas introduções e fui direto ao primeiro capítulo: "Meu Deus: É a Pandemia, Ela Chegou!"
Ali aprendi que pandemias de gripe são mazelas recorrentes da humanidade. Nos últimos três séculos, houve pelo menos dez delas. Mas só uma foi prevista - antes da de 2009, a que não houve (não até agora, nem com os horrores aventados na imprensa).
O herói da história é Maurice Hilleman, por coincidência nascido em 1919, durante a maior e mais mortífera pandemia de gripe de todos os tempos. Matou, provavelmente, mais de 50 milhões de pessoas.
Oitavo filho de uma família de camponeses de origem alemã de Montana (EUA), órfão de mãe, Hilleman foi criado por tios. Escapou da morte mais de uma vez, quando criança. Até aí, só uma história bem contada.
Da maneira mais improvável, Hilleman chegou à obscura Universidade Estadual de Montana, onde estudou química e microbiologia. Saltou dali para um doutorado na prestigiosa Universidade de Chicago. Trabalhou depois na farmacêutica Squibb, onde aprendeu a fabricar vacinas, e terminou no Instituto Militar de Pesquisas Médicas Walter Reed, em 1948.
Nove anos depois, abril de 1957, Hilleman lia o jornal "The New York Times" em sua sala do Walter Reed quando topou com uma reportagem sobre gripe aviária que grassava em Hong Kong. Dez por cento da população afetada, filas de 20 mil pessoas nas portas dos hospitais. "Meu Deus: é a pandemia, ela chegou!" - disse Hilleman a si mesmo, segundo Offit.
O pesquisador telegrafou para conhecidos no Japão pedindo informações. Acabou localizando um jovem da Marinha japonesa que passara por Hong Kong e adoecera. Um oficial médico fez com que o marujo gargarejasse com salmoura e enviou o produto para Hilleman. Apenas um mês depois de ler o artigo no jornal, recebia o preparado, e começou o trabalho de verificar se era um vírus com potencial pandêmico. O processo era para lá de laborioso.
Primeiro, tinha de cultivar o influenza em um ovo incubado de galinha, abrindo uma janelinha na casca e injetando algumas gotas do gargarejo. Depois de assim multiplicadas as partículas virais, passou a testá-las com o soro sanguíneo de soldados estocado no Walter Reed.
Não encontrou nenhum que tivesse anticorpos contra o vírus. Usou em seguida amostras de soro de civis. Nada. Certo de que era um agente ameaçador, contra o qual a maioria das pessoas não teria defesa, enviou amostras para a recém-criada Organização Mundial da Saúde, para distribuição aos laboratórios do mundo. Distribuiu uma nota à imprensa avisando da iminente pandemia, mas nenhum jornal se interessou (outros tempos).
Em questão de meses se confirmou que só tinham anticorpos contra o vírus umas poucas pessoas da Holanda e dos Estados Unidos. Eram sobreviventes da pandemia de 1889-1890, que vitimara 6 milhões.
Em junho, os primeiros lotes de vacina eram produzidos. Mesmo assim, a pandemia de 1957 matou 70 mil americanos e 4 milhões noutras partes do mundo.
(Folha de SP, 18/5)
Inimigos invisíveis, artigo de Isaac Roitman
“A gripe suína será combatida com os conhecimentos científicos e tecnológicos e, em futuro breve, passará para a história. No entanto, se não acabarmos com o inimigo que envenena a formação de nossa personalidade é possível que não tenhamos futuro”
Isaac Roitman é doutor em microbiologia, membro titular da Academia Brasileira de Ciências e do Conselho da SBPC. Artigo publicado no “Correio Braziliense”:
Antes da descoberta do microscópio por Leeuwenhoek (1650) e os trabalhos de Pasteur (1871) e Koch (1881), a transmissão de doenças era explicada por meio da teoria dos miasmas, segundo a qual as doenças estavam associadas com a putrefação e maus odores, que se propagavam pelo ar.
A partir do trabalho desses cientistas se comprovou que vários microrganismos - bactérias, fungos, protozoários e vírus – causam doenças infecciosas que são transmitidas por diferentes formas. Os vírus, que são os microrganismos de menor tamanho (20 a 400 nânometros), só podem ser observados no microscópio eletrônico.
A partícula viral é muito simples, constituída de ácidos nucléicos e proteínas, causam doenças, tais como gripe, resfriado, caxumba, raiva, hepatite, dengue, poliomielite, febre amarela e Aids.
Recentemente, as manchetes da mídia têm sido ocupadas pelo surto da gripe suína, que, do México, está se alastrando para vários países. O receio da expansão da doença e os registros de outras endemias, principalmente a gripe espanhola que, em 1918, causou a morte de aproximadamente 30 milhões de pessoas, justificam o alerta e a introdução de medidas para o controle da doença.
A gravidade da gripe suína, que é uma doença viral, provavelmente se deve a mudanças genéticas ocorridas a partir de um vírus pré-existente.
Esse é um processo que ocorre de forma permanente na natureza em todos os seres vivos. É ainda muito cedo para se fazer simulações e previsões corretas. Dados como a taxa de mortalidade e a modulação da transmissão poderão contribuir para a elaboração de previsões confiáveis. Embora tenhamos hoje conhecimentos científicos e tecnológicos para o diagnóstico, tratamento e controle de doenças virais, muito mais avançados e efetivos que no início do século 20, a grande facilidade de mobilidade das pessoas poderá facilitar a disseminação da doença.
No entanto, é importante lembrar que, ao contrário da crença popular, é somente um pequeno número de microrganismos (bactérias, fungos, protozoários e vírus) que causa doenças em seres humanos ou em outros seres vivos.
A maioria desses organismos são úteis para o ser humano ou como co-habitantes do nosso corpo, onde desempenham importante papel fisiológico, e na fabricação de vários produtos, entre os quais os antibióticos, os laticínios, o pão e o álcool. Também são importantes na agricultura, mediante bactérias fixadoras de nitrogênio.
No entanto é oportuno, antes de concluir esse artigo, refletir sobre outro inimigo invisível, que é aquele que está em nós mesmos. Ele causa deformação no nosso comportamento. Ele se caracteriza pela deformação de nossa personalidade modulando as nossas ações no dia a dia. Ele é o responsável por nossa ambição desmedida, pelo consumismo desenfreado, pelo egoísmo, pela da falta de solidariedade e de outras mazelas que envergonham a raça humana. Esse inimigo se consolida da observação, que se inicia nos primeiros anos de vida, de um mundo pobre em princípios morais e civilidade, mergulhado em um cenário de violências, de falta de confiança, de caos social e rico em desesperança.
A deformação da personalidade transforma-se em uma força a modular a ação coletiva, que provoca cenário planetário de injustiça social, onde centenas de milhões de pessoas têm que sobreviver abaixo da linha de miséria (menos de US$ 2 por dia), e que certamente serão mais susceptíveis à gripe suína e a outras doenças.
Essa deformação é responsável pelas guerras, crimes de diferentes tipologias, pela corrupção e pelo comportamento de maus gestores, maus políticos, pela especulação enganosa, enfim pelas ações de todas as pessoas que exerçam papel na sociedade e que possuem pouca ou nenhuma formação moral e ética.
Esse inimigo pode ser combatido e talvez eliminado em algumas gerações, se tivermos, gradativamente, mudança de cenário presenteando as futuras gerações, que terão o privilégio de construírem uma personalidade que redundará em um mundo justo e solidário, onde cada ser humano possa exercer com plenitude e felicidade essa experiência fantástica que chamamos vida.
A gripe suína será combatida com os conhecimentos científicos e tecnológicos e, em futuro breve, passará para a história. No entanto, se não acabarmos com o inimigo que envenena a formação de nossa personalidade é possível que não tenhamos futuro e todos seremos somente parte de uma triste história.
(Correio Braziliense, 16/5)
Isaac Roitman é doutor em microbiologia, membro titular da Academia Brasileira de Ciências e do Conselho da SBPC. Artigo publicado no “Correio Braziliense”:
Antes da descoberta do microscópio por Leeuwenhoek (1650) e os trabalhos de Pasteur (1871) e Koch (1881), a transmissão de doenças era explicada por meio da teoria dos miasmas, segundo a qual as doenças estavam associadas com a putrefação e maus odores, que se propagavam pelo ar.
A partir do trabalho desses cientistas se comprovou que vários microrganismos - bactérias, fungos, protozoários e vírus – causam doenças infecciosas que são transmitidas por diferentes formas. Os vírus, que são os microrganismos de menor tamanho (20 a 400 nânometros), só podem ser observados no microscópio eletrônico.
A partícula viral é muito simples, constituída de ácidos nucléicos e proteínas, causam doenças, tais como gripe, resfriado, caxumba, raiva, hepatite, dengue, poliomielite, febre amarela e Aids.
Recentemente, as manchetes da mídia têm sido ocupadas pelo surto da gripe suína, que, do México, está se alastrando para vários países. O receio da expansão da doença e os registros de outras endemias, principalmente a gripe espanhola que, em 1918, causou a morte de aproximadamente 30 milhões de pessoas, justificam o alerta e a introdução de medidas para o controle da doença.
A gravidade da gripe suína, que é uma doença viral, provavelmente se deve a mudanças genéticas ocorridas a partir de um vírus pré-existente.
Esse é um processo que ocorre de forma permanente na natureza em todos os seres vivos. É ainda muito cedo para se fazer simulações e previsões corretas. Dados como a taxa de mortalidade e a modulação da transmissão poderão contribuir para a elaboração de previsões confiáveis. Embora tenhamos hoje conhecimentos científicos e tecnológicos para o diagnóstico, tratamento e controle de doenças virais, muito mais avançados e efetivos que no início do século 20, a grande facilidade de mobilidade das pessoas poderá facilitar a disseminação da doença.
No entanto, é importante lembrar que, ao contrário da crença popular, é somente um pequeno número de microrganismos (bactérias, fungos, protozoários e vírus) que causa doenças em seres humanos ou em outros seres vivos.
A maioria desses organismos são úteis para o ser humano ou como co-habitantes do nosso corpo, onde desempenham importante papel fisiológico, e na fabricação de vários produtos, entre os quais os antibióticos, os laticínios, o pão e o álcool. Também são importantes na agricultura, mediante bactérias fixadoras de nitrogênio.
No entanto é oportuno, antes de concluir esse artigo, refletir sobre outro inimigo invisível, que é aquele que está em nós mesmos. Ele causa deformação no nosso comportamento. Ele se caracteriza pela deformação de nossa personalidade modulando as nossas ações no dia a dia. Ele é o responsável por nossa ambição desmedida, pelo consumismo desenfreado, pelo egoísmo, pela da falta de solidariedade e de outras mazelas que envergonham a raça humana. Esse inimigo se consolida da observação, que se inicia nos primeiros anos de vida, de um mundo pobre em princípios morais e civilidade, mergulhado em um cenário de violências, de falta de confiança, de caos social e rico em desesperança.
A deformação da personalidade transforma-se em uma força a modular a ação coletiva, que provoca cenário planetário de injustiça social, onde centenas de milhões de pessoas têm que sobreviver abaixo da linha de miséria (menos de US$ 2 por dia), e que certamente serão mais susceptíveis à gripe suína e a outras doenças.
Essa deformação é responsável pelas guerras, crimes de diferentes tipologias, pela corrupção e pelo comportamento de maus gestores, maus políticos, pela especulação enganosa, enfim pelas ações de todas as pessoas que exerçam papel na sociedade e que possuem pouca ou nenhuma formação moral e ética.
Esse inimigo pode ser combatido e talvez eliminado em algumas gerações, se tivermos, gradativamente, mudança de cenário presenteando as futuras gerações, que terão o privilégio de construírem uma personalidade que redundará em um mundo justo e solidário, onde cada ser humano possa exercer com plenitude e felicidade essa experiência fantástica que chamamos vida.
A gripe suína será combatida com os conhecimentos científicos e tecnológicos e, em futuro breve, passará para a história. No entanto, se não acabarmos com o inimigo que envenena a formação de nossa personalidade é possível que não tenhamos futuro e todos seremos somente parte de uma triste história.
(Correio Braziliense, 16/5)
Na série B da educação
Alunos do Brasil e outros países têm desempenho tão fraco que teste muda para avaliá-los
Demétrio Weber escreve para “O Globo”:
O baixo desempenho do Brasil e de um grupo de países num dos mais importantes testes de ensino, o Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa, na sigla em inglês), obrigou a Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) a reformular a nova edição da prova.
O teste, que no Brasil será aplicado na próxima semana, terá questões mais fáceis. O objetivo é traduzir melhor o desempenho de quem vai mal no teste, separando estudantes que praticamente não sabem nada dos que demonstram um mínimo de conhecimento.
Em 2000, o Brasil amargou o último lugar em leitura, entre 32 nações.
Deixou a lanterna mais tarde, após um grupo adicional de países fazer a mesma prova. No ranking final, o Brasil passou para a 39ª posição entre 43 nações.
Em 2006, o país ficou em 49º lugar entre 56 participantes — à frente da Argentina, mas atrás de Indonésia, Romênia, México, Uruguai e Chile. O Pisa é realizado a cada três anos. Em 2006, a Coreia do Sul tomou a liderança da Finlândia na prova de leitura.
A decisão de incluir questões mais fáceis para todos os países que participam do exame coincide com a ampliação do Pisa. Este ano, a prova avaliará jovens de 72 países — mais do que o dobro dos 32 participantes na estreia, em 2000. O foco será a capacidade de leitura.
— Não é que o teste vá ser mais fácil. Será tão difícil quanto antes. O que queremos é descrever melhor o desempenho dos alunos com menos habilidades — resume o coordenador-geral do Pisa junto à OCDE, Andreas Schleicher.
Pontuação inferior até ao nível mínimo
Ele diz que todos os países têm estudantes com fraco desempenho. Mas o que varia — e muito — é a proporção. No teste de leitura de 2006, 55,5% dos jovens brasileiros ficaram abaixo do nível 2, que é o mínimo recomendado pela OCDE, na escala até 5.
Nada menos do que 27,8% deles foram classificados abaixo do nível 1. Ou seja, tiveram uma pontuação tão baixa que não aparece sequer na tabela de níveis de proficiência em que são indicadas as habilidades dos alunos. Na Argentina, foram 35,8% na mesma situação; na Colômbia, 30,4%; No Uruguai, 25,3%; no Chile, 14,8%. Entre os países da OCDE, esse percentual ficou em 8,9%.
No nível 1, reservado a quem tirou menos de 334,8 pontos na escala até 800, os jovens são capazes de compreender somente textos simples, identificando o tema principal e situando fragmentos de informação. O que dizer, então, de quem ficou abaixo de 1?
— É exatamente o que queremos fazer com essa escala maior de questões: discriminar melhor os estudantes que sabem muito pouco dos que sabem algo — afirma Schleicher.
No Brasil, 56 mil alunos fazem o teste
Único país sul-americano presente em todas as edições do Pisa, o Brasil volta a se submeter ao exame entre 25 e 29 de maio. Cerca de 56 mil alunos brasileiros farão o teste em 587 municípios. Participam jovens de 15 anos, de escolas públicas e particulares, independentemente da série em que estão matriculados.
O Pisa testa a capacidade dos estudantes em três áreas: leitura, matemática e ciências. O foco de 2009 será leitura. A OCDE reúne 30 países, a maioria de Primeiro Mundo, além de México, Eslováquia e Polônia.
Dos 56 mil alunos brasileiros matriculados em 990 escolas públicas e privadas, cerca de 30 mil constituem a amostra do Pisa propriamente dito, isto é, têm 15 anos e frequentam turmas da 7ª série (8º ano) do ensino fundamental ao 3º ano do ensino médio. Os demais 26 mil estão todos no 1º ano do ensino médio, independentemente da idade.
O motivo das duas amostras é que o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), órgão do Ministério da Educação responsável pelo exame no Brasil, quer comparar o impacto do atraso escolar. Afinal, 47,5% dos estudantes do 1º ano estão acima da idade prevista. A ideia é comparar as notas dos dois grupos.
A defasagem idade-série é resultado da repetência e da evasão. Ela prejudica o desempenho do país no exame.
— Temos mais de 3 milhões de jovens de 15 a 17 anos ainda no ensino fundamental. O Brasil tem uma dívida social histórica — diz o diretor de Concepções e Orientações Curriculares para a Educação Básica do MEC, Carlos Artexes.
O Inep pagará R$ 1,9 milhão para realizar o Pisa. Pelo menos 80% dos estudantes sorteados devem fazer o exame. Em 2006, o Brasil não atingiu o índice, e a OCDE teve de arredondar os dados de participação para cima, o que é previsto. A Holanda já ficou de fora por não alcançar a amostragem mínima. Os resultados serão divulgados no ano que vem.
Resultado muito surpreendente
O coordenador-geral do Pisa na OCDE, Andreas Schleicher, considera surpreendente uma parcela significativa dos estudantes de 15 anos aprender tão pouco, apesar de frequentar a escola por quase uma década ou mais. Segundo ele, a melhoria da qualidade do ensino é o maior desafio dos países, não só do Brasil.
O último exame, em 2006, mostrou que 10,2% dos alunos de países membros da OCDE ficaram abaixo do nível 1 na prova de matemática. No Brasil, esse percentual foi de 46,6%, o pior entre as seis nações sul-americanas que participaram do teste. A Colômbia aparece em segundo nesse ranking ao contrário, com 44,6% dos alunos abaixo do nível 1.
Sob esse aspecto, o desempenho em matemática dos países da OCDE foi pior do que em leitura (8,9% dos jovens abaixo do nível 1) e ciências (6,9%).
— É muito surpreendente que, aos 15 anos, tamanha proporção de estudantes tenha níveis tão baixos de leitura, matemática e ciências. O grande desafio para os sistemas de ensino é diagnosticar as falhas e ajudar os alunos a melhorar — diz Schleicher de Paris, de onde acompanha a aplicação do Pisa em 72 países.
Embora sublinhe que o Brasil precisa superar o abismo da falta de qualidade, o coordenador-geral do Pisa elogia o país:
— Se você compara os últimos cinco ou seis anos do Brasil com os de países da região, como Chile ou México, o Brasil fez claramente mais progressos do que a maioria dos países na área.
Em abril, a OCDE divulgou um estudo sobre a última edição do exame, com ênfase nos estudantes que atingiram pontuação alta. Entre os brasileiros, em leitura, 1,1% dos estudantes atingiram o nível 5, o mais alto da escala (mínimo de 625,61 pontos, na escala até 800). Em ciências, o percentual brasileiro no nível 6, o mais alto, foi irrisório, e 0,5% chegaram ao nível 5; em matemática, 0,2%.
Na Coreia do Sul, 21,7% dos alunos chegaram ao nível máximo de leitura e 9,1% alcançaram o de matemática. Na Nova Zelândia, 4% fizeram o mesmo em ciências.
— Os professores nesses países conseguem dar conta das diferenças dos estudantes de modo muito construtivo: dão apoio aos mais fracos, sem deixar de incentivar as habilidades dos mais fortes.
(O Globo, 18/5)
Demétrio Weber escreve para “O Globo”:
O baixo desempenho do Brasil e de um grupo de países num dos mais importantes testes de ensino, o Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa, na sigla em inglês), obrigou a Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) a reformular a nova edição da prova.
O teste, que no Brasil será aplicado na próxima semana, terá questões mais fáceis. O objetivo é traduzir melhor o desempenho de quem vai mal no teste, separando estudantes que praticamente não sabem nada dos que demonstram um mínimo de conhecimento.
Em 2000, o Brasil amargou o último lugar em leitura, entre 32 nações.
Deixou a lanterna mais tarde, após um grupo adicional de países fazer a mesma prova. No ranking final, o Brasil passou para a 39ª posição entre 43 nações.
Em 2006, o país ficou em 49º lugar entre 56 participantes — à frente da Argentina, mas atrás de Indonésia, Romênia, México, Uruguai e Chile. O Pisa é realizado a cada três anos. Em 2006, a Coreia do Sul tomou a liderança da Finlândia na prova de leitura.
A decisão de incluir questões mais fáceis para todos os países que participam do exame coincide com a ampliação do Pisa. Este ano, a prova avaliará jovens de 72 países — mais do que o dobro dos 32 participantes na estreia, em 2000. O foco será a capacidade de leitura.
— Não é que o teste vá ser mais fácil. Será tão difícil quanto antes. O que queremos é descrever melhor o desempenho dos alunos com menos habilidades — resume o coordenador-geral do Pisa junto à OCDE, Andreas Schleicher.
Pontuação inferior até ao nível mínimo
Ele diz que todos os países têm estudantes com fraco desempenho. Mas o que varia — e muito — é a proporção. No teste de leitura de 2006, 55,5% dos jovens brasileiros ficaram abaixo do nível 2, que é o mínimo recomendado pela OCDE, na escala até 5.
Nada menos do que 27,8% deles foram classificados abaixo do nível 1. Ou seja, tiveram uma pontuação tão baixa que não aparece sequer na tabela de níveis de proficiência em que são indicadas as habilidades dos alunos. Na Argentina, foram 35,8% na mesma situação; na Colômbia, 30,4%; No Uruguai, 25,3%; no Chile, 14,8%. Entre os países da OCDE, esse percentual ficou em 8,9%.
No nível 1, reservado a quem tirou menos de 334,8 pontos na escala até 800, os jovens são capazes de compreender somente textos simples, identificando o tema principal e situando fragmentos de informação. O que dizer, então, de quem ficou abaixo de 1?
— É exatamente o que queremos fazer com essa escala maior de questões: discriminar melhor os estudantes que sabem muito pouco dos que sabem algo — afirma Schleicher.
No Brasil, 56 mil alunos fazem o teste
Único país sul-americano presente em todas as edições do Pisa, o Brasil volta a se submeter ao exame entre 25 e 29 de maio. Cerca de 56 mil alunos brasileiros farão o teste em 587 municípios. Participam jovens de 15 anos, de escolas públicas e particulares, independentemente da série em que estão matriculados.
O Pisa testa a capacidade dos estudantes em três áreas: leitura, matemática e ciências. O foco de 2009 será leitura. A OCDE reúne 30 países, a maioria de Primeiro Mundo, além de México, Eslováquia e Polônia.
Dos 56 mil alunos brasileiros matriculados em 990 escolas públicas e privadas, cerca de 30 mil constituem a amostra do Pisa propriamente dito, isto é, têm 15 anos e frequentam turmas da 7ª série (8º ano) do ensino fundamental ao 3º ano do ensino médio. Os demais 26 mil estão todos no 1º ano do ensino médio, independentemente da idade.
O motivo das duas amostras é que o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), órgão do Ministério da Educação responsável pelo exame no Brasil, quer comparar o impacto do atraso escolar. Afinal, 47,5% dos estudantes do 1º ano estão acima da idade prevista. A ideia é comparar as notas dos dois grupos.
A defasagem idade-série é resultado da repetência e da evasão. Ela prejudica o desempenho do país no exame.
— Temos mais de 3 milhões de jovens de 15 a 17 anos ainda no ensino fundamental. O Brasil tem uma dívida social histórica — diz o diretor de Concepções e Orientações Curriculares para a Educação Básica do MEC, Carlos Artexes.
O Inep pagará R$ 1,9 milhão para realizar o Pisa. Pelo menos 80% dos estudantes sorteados devem fazer o exame. Em 2006, o Brasil não atingiu o índice, e a OCDE teve de arredondar os dados de participação para cima, o que é previsto. A Holanda já ficou de fora por não alcançar a amostragem mínima. Os resultados serão divulgados no ano que vem.
Resultado muito surpreendente
O coordenador-geral do Pisa na OCDE, Andreas Schleicher, considera surpreendente uma parcela significativa dos estudantes de 15 anos aprender tão pouco, apesar de frequentar a escola por quase uma década ou mais. Segundo ele, a melhoria da qualidade do ensino é o maior desafio dos países, não só do Brasil.
O último exame, em 2006, mostrou que 10,2% dos alunos de países membros da OCDE ficaram abaixo do nível 1 na prova de matemática. No Brasil, esse percentual foi de 46,6%, o pior entre as seis nações sul-americanas que participaram do teste. A Colômbia aparece em segundo nesse ranking ao contrário, com 44,6% dos alunos abaixo do nível 1.
Sob esse aspecto, o desempenho em matemática dos países da OCDE foi pior do que em leitura (8,9% dos jovens abaixo do nível 1) e ciências (6,9%).
— É muito surpreendente que, aos 15 anos, tamanha proporção de estudantes tenha níveis tão baixos de leitura, matemática e ciências. O grande desafio para os sistemas de ensino é diagnosticar as falhas e ajudar os alunos a melhorar — diz Schleicher de Paris, de onde acompanha a aplicação do Pisa em 72 países.
Embora sublinhe que o Brasil precisa superar o abismo da falta de qualidade, o coordenador-geral do Pisa elogia o país:
— Se você compara os últimos cinco ou seis anos do Brasil com os de países da região, como Chile ou México, o Brasil fez claramente mais progressos do que a maioria dos países na área.
Em abril, a OCDE divulgou um estudo sobre a última edição do exame, com ênfase nos estudantes que atingiram pontuação alta. Entre os brasileiros, em leitura, 1,1% dos estudantes atingiram o nível 5, o mais alto da escala (mínimo de 625,61 pontos, na escala até 800). Em ciências, o percentual brasileiro no nível 6, o mais alto, foi irrisório, e 0,5% chegaram ao nível 5; em matemática, 0,2%.
Na Coreia do Sul, 21,7% dos alunos chegaram ao nível máximo de leitura e 9,1% alcançaram o de matemática. Na Nova Zelândia, 4% fizeram o mesmo em ciências.
— Os professores nesses países conseguem dar conta das diferenças dos estudantes de modo muito construtivo: dão apoio aos mais fracos, sem deixar de incentivar as habilidades dos mais fortes.
(O Globo, 18/5)
quarta-feira, 13 de maio de 2009
Salvem as ilhas!
Ilhas oceânicas são chave para manter biodiversidade | |
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Essas regiões possuem inúmeras espécies que não existem em nenhum outro lugar, aponta pesquisa Alexandre Gonçalves escreve para “O Estado de SP”: Apesar de contar com uma biodiversidade menor do que as áreas continentais, as ilhas oceânicas são áreas críticas para a preservação, pois possuem inúmeras espécies que não existem em nenhum outro lugar. Foi o que mostrou um estudo publicado ontem pela Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS). Os pesquisadores criaram um indicador - batizado de riqueza endêmica - para quantificar o número de espécies que vivem apenas em uma determinada região. Depois, dividiram o mundo em 90 áreas geográficas e calcularam o novo indicador para cada uma delas. As ilhas oceânicas apresentaram uma riqueza endêmica nove vezes maior do que a de áreas continentais. Holger Kreft, coautor do estudo, considera prioritária a criação de parques nacionais para proteger essas áreas. As ilhas oceânicas diferem das ilhas costeiras pois não estão sobre a plataforma continental. Algumas são fragmentos de continentes que permaneceram no meio do oceano, como é o caso da Ilha de Nova Caledônia, no Pacífico. Constituem santuários com "relíquias" de linhagens evolutivas muito diferentes das que existem em outros lugares. Há também as ilhas formadas por atividade vulcânica, mais recentes e com espécies mais jovens, como as Ilhas Galápagos, por exemplo. O Brasil tem quatro arquipélagos oceânicos: Atol das Rocas, Fernando de Noronha, Trindade e Martin Vaz, e o arquipélago de São Pedro e São Paulo. O biólogo Ruy Valka, do Museu Nacional, no Rio, explica que Fernando de Noronha e Trindade são as ilhas com flora mais rica. "Já sofreram com o processo de degradação. Algumas espécies desapareceram", aponta Valka. Ele cita, por exemplo, a ação predatória dos rebanhos introduzidos nos arquipélagos. "Eles se reproduzem e comem toda a vegetação nativa", afirma o biólogo. Fábio Mota, do programa Costa Atlântica da Fundação SOS Mata Atlântica, recorda que as novas espécies identificadas em ilhas costumam ser incluídas na lista vermelha da União Internacional pela Conservação da Natureza (IUCN, na sigla em inglês) tão logo são descobertas. "Como vivem em um ambiente tão restrito já são consideradas criticamente em perigo, pois qualquer desequilíbrio pode causar sua extinção", explica Mota. Ele também recorda que, no Brasil, 0,6% do mar territorial está protegido por alguma categoria de conservação. Apenas 0,1% recebe proteção integral que proíbe todo tipo de atividade predatória ou extrativista. (O Estado de SP, 13/5) |
Aumenta o volume! Não tô escutando!
Um hormônio sexual e sensorial | |
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Estrogênio controla processamento de estímulos sonoros no cérebro e formação da memória auditiva Um estudo feito em aves e conduzido por um brasileiro na Universidade de Rochester, em Nova Iorque (Estados Unidos), abre as portas para o desenvolvimento de novas terapias para mulheres que sofrem de deficiência auditiva associada à carência hormonal. A equipe descobriu que o estrogênio, o principal hormônio feminino, é essencial para o processamento das informações sonoras no cérebro e a formação da memória auditiva. O estrogênio é conhecido por afetar processos como a diferenciação sexual e o humor. Já se sabe também, desde a década de 1980, que o desempenho auditivo está relacionado aos níveis desse hormônio no sangue. Mulheres que se submeteram à retirada dos ovários ou que sofrem de síndrome de Turner, por exemplo, apresentam deficiência de estrogênio e perda da audição. Mas os cientistas achavam que o hormônio agia nas células do ouvido. O novo estudo, publicado na semana passada no Journal of Neuroscience, mostra pela primeira vez que um hormônio sexual pode afetar a função auditiva no cérebro. Leia a matéria completa na “CH On-line”, que tem conteúdo exclusivo atualizado diariamente: http://cienciahoje.uol.com.br/144884 |
O paradoxo chinês
País dos mais poluidores é também recordista em usinas de carvão 'limpas'
Keith Bradsher escreve para o “New York Times”:
A construção frenética de novas usinas de carvão na China tem causado temores em todo mundo sobre os efeitos que isso pode ter no clima. Atualmente, a China usa mais carvão — uma fonte de energia “suja” — do que Estados Unidos, Europa e Japão juntos, fazendo do país o maior emissor de gases que contribuem para o aquecimento global.
O que tem sido pouco comentado é o fato de que a China está se tornando também a maior construtora de usinas de carvão mais eficientes e, portanto, menos poluentes, dominando essa tecnologia e diminuindo os seus custos. Enquanto os EUA ainda discutem se devem aderir a esse modelo de eficiência, a China já constroi essas usinas numa média de uma por mês.
Novas usinas liberam menos CO2
Embora o secretário de Energia dos EUA, Steven Chu, tenha dito que o governo Obama pode seguir esse exemplo, o investimento em uma nova geração de usinas menos poluentes, que transformam carvão em energia antes de queimá-lo, estacionou no país. O governo chinês, por sua vez, já aprovou a construção de uma usina semelhante, que deve ser erguida em Tianjin.
— O governo chinês tem dado passos rápidos e firmes nesse setor — garante Hal Harvey, presidente da ClimateWorks, um grupo de São Francisco que ajuda a financiar projetos que limitam o aquecimento global.
Diversos países do Ocidente dependem largamente de usinas de carvão construídas há décadas, com tecnologia ultrapassada e ineficiente, que queima muito carvão e emite uma quantidade considerável de dióxido de carbono (CO2). Na China, as autoridades começaram a exigir que as empresas retirem de circulação antigas usinas para cada uma nova que for construída.
Segundo Cao Peixi, presidente da estatal China Huaneng Group, maior empresa do setor elétrico do país, projetos como o de uma usina em Tianjin vão ser tocados com todo o empenho, embora sejam mais caros do que a construção de uma usina convencional.
— Não devemos olhar para esse tipo de iniciativa por um lado puramente financeiro. Isso representa o futuro.
Sem dúvida, as usinas de carvão da China ainda apresentam problemas e a emissão de gases do efeito estufa do país — que tem as maiores reservas de carvão do mundo, depois dos EUA e Rússia — deve continuar aumentando. Mas o governo espera usar a nova tecnologia para reduzir tais emissões.
Uma usina eficiente queima menos carvão e emite menos CO2 para cada unidade de eletricidade que gera. Especialistas dizem que as usinas menos eficientes em atividade no país convertem entre 27% e 36% de carvão em eletricidade. Já as mais modernas e eficientes convertem cerca de 44% de carvão em eletricidade, significando que elas podem cortar as emissões em mais de 1/3 em relação às usinas antigas.
De acordo com um recente relatório da Agência Internacional de Energia, a China se tornou o maior mercado para usinas de carvão avançadas, com um controle de emissões altamente sofisticado. Por conta dos ganhos conseguidos com as novas usinas, a agência diminuiu a previsão anual de emissões do país de 3,2% para 3%.
— A China está fazendo mudanças de bases e isso está sendo levado em conta — afirma Jonathan Sinton, da Agência Internacional de Energia Mesmo assim, ao permanecer fortemente dependente de carvão — que gera 80% da sua eletricidade —, a China vai continuar mantendo os seus altos padrões de emissões.
A grande questão será ver até que ponto o país vai seguir nesse caminho.
(O Globo, 12/5)
Keith Bradsher escreve para o “New York Times”:
A construção frenética de novas usinas de carvão na China tem causado temores em todo mundo sobre os efeitos que isso pode ter no clima. Atualmente, a China usa mais carvão — uma fonte de energia “suja” — do que Estados Unidos, Europa e Japão juntos, fazendo do país o maior emissor de gases que contribuem para o aquecimento global.
O que tem sido pouco comentado é o fato de que a China está se tornando também a maior construtora de usinas de carvão mais eficientes e, portanto, menos poluentes, dominando essa tecnologia e diminuindo os seus custos. Enquanto os EUA ainda discutem se devem aderir a esse modelo de eficiência, a China já constroi essas usinas numa média de uma por mês.
Novas usinas liberam menos CO2
Embora o secretário de Energia dos EUA, Steven Chu, tenha dito que o governo Obama pode seguir esse exemplo, o investimento em uma nova geração de usinas menos poluentes, que transformam carvão em energia antes de queimá-lo, estacionou no país. O governo chinês, por sua vez, já aprovou a construção de uma usina semelhante, que deve ser erguida em Tianjin.
— O governo chinês tem dado passos rápidos e firmes nesse setor — garante Hal Harvey, presidente da ClimateWorks, um grupo de São Francisco que ajuda a financiar projetos que limitam o aquecimento global.
Diversos países do Ocidente dependem largamente de usinas de carvão construídas há décadas, com tecnologia ultrapassada e ineficiente, que queima muito carvão e emite uma quantidade considerável de dióxido de carbono (CO2). Na China, as autoridades começaram a exigir que as empresas retirem de circulação antigas usinas para cada uma nova que for construída.
Segundo Cao Peixi, presidente da estatal China Huaneng Group, maior empresa do setor elétrico do país, projetos como o de uma usina em Tianjin vão ser tocados com todo o empenho, embora sejam mais caros do que a construção de uma usina convencional.
— Não devemos olhar para esse tipo de iniciativa por um lado puramente financeiro. Isso representa o futuro.
Sem dúvida, as usinas de carvão da China ainda apresentam problemas e a emissão de gases do efeito estufa do país — que tem as maiores reservas de carvão do mundo, depois dos EUA e Rússia — deve continuar aumentando. Mas o governo espera usar a nova tecnologia para reduzir tais emissões.
Uma usina eficiente queima menos carvão e emite menos CO2 para cada unidade de eletricidade que gera. Especialistas dizem que as usinas menos eficientes em atividade no país convertem entre 27% e 36% de carvão em eletricidade. Já as mais modernas e eficientes convertem cerca de 44% de carvão em eletricidade, significando que elas podem cortar as emissões em mais de 1/3 em relação às usinas antigas.
De acordo com um recente relatório da Agência Internacional de Energia, a China se tornou o maior mercado para usinas de carvão avançadas, com um controle de emissões altamente sofisticado. Por conta dos ganhos conseguidos com as novas usinas, a agência diminuiu a previsão anual de emissões do país de 3,2% para 3%.
— A China está fazendo mudanças de bases e isso está sendo levado em conta — afirma Jonathan Sinton, da Agência Internacional de Energia Mesmo assim, ao permanecer fortemente dependente de carvão — que gera 80% da sua eletricidade —, a China vai continuar mantendo os seus altos padrões de emissões.
A grande questão será ver até que ponto o país vai seguir nesse caminho.
(O Globo, 12/5)
Terras indígenas e reservas possuem 30% do carbono estocado na Amazônia
Estudo do Instituto de Pesquisa da Amazônia (Ipam) com a Universidade de Minas Gerais e o Woods Hole Research Center destaca importância de povos indígenas e populações tradicionais
Daniela Chiaretti escreve para o “Valor Econômico”:
Na Amazônia brasileira, nas árvores que estão nos 100 milhões de hectares de terras indígenas e reservas extrativistas, há 15 bilhões de toneladas de carbono estocadas.
Este volume impressionante, que causaria um caos climático se liberado na atmosfera, é 30% das 47 bilhões de toneladas de carbono que estão espalhadas nos troncos, galhos e no solo das florestas da região. Mais do que isso: representa oito vezes o esforço mundial de reduzir a emissão de gases-estufa prevista no primeiro período do Protocolo de Kyoto.
Esses dados foram divulgados ontem, em Brasília, durante um seminário que reúne povos indígenas e populações tradicionais da Amazônia brasileira e de países vizinhos para discutir mudanças climáticas.
Fazem parte de estudo do Instituto de Pesquisa da Amazônia (Ipam) com a Universidade de Minas Gerais e o Woods Hole Research Center. "Fica evidente o papel que eles têm na preservação das florestas e na proteção deste grande estoque de carbono", diz Paulo Moutinho, coordenador de pesquisas do Ipam.
O que se discute é REDD, a sigla para Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação, que define um mecanismo para evitar a emissão de carbono que acontece nas queimadas e derrubadas de florestas. REDD tem sido discutido nas reuniões internacionais que antecedem à 15ª Conferência do Clima das Nações Unidas em dezembro, em Copenhague.
"O grande risco do REDD é ficar no varejo, cada um com seu método e seu tipo de compensação, uma série de projetos com uma série de atores e política diversa sem respeito aos direitos das populações tradicionais", resume o pesquisador. A ideia do seminário é avançar no debate e chegar a Copenhague com um documento que enumere as propostas e os princípios de REDD de acordo com a visão dos povos da floresta. "REDD precisa ser de larga escala, com princípios de transparência e governabilidade", registra Moutinho.
"Estamos, nesse momento, com todas as calhas maiores de rios do Estado do Amazonas alagadas e com 20 mil famílias desabrigadas", diz Manoel Cunha, presidente do Conselho Nacional dos Seringueiros. "Isto nunca aconteceu na história", continua, detectando o que considera o efeito das mudanças climáticas na Amazônia.
O seminário, diz, pretende iniciar a construção de uma proposta de REDD para a floresta amazônica e discutir novas formas de usar os recursos naturais da região. "Hoje é mais fácil encontrar créditos para desmatar um hectare de floresta e criar gado que para conseguir financiamento para coletar castanha ou comprar um kit e extrair látex das seringueiras. Temos que mudar este cenário", diz Cunha.
Francisco Avelino Batista, conhecido como Chico Apurinã, líder da Coiab (entidade que representa 165 etnias), registra que os povos indígenas estão sofrendo os efeitos do aquecimento global sem desmatar a floresta. "Nosso entendimento é discutir REDD de forma que se reconheça o trabalho que fazemos", diz.
REDD é uma palavra ampla, onde cabem muitas interpretações. A do governo brasileiro, por ora, é a de que as florestas devem participar dos mecanismos de negociação do regime climático, mas isso não significa negociar projetos de redução de emissão baseados em reduções futuras ou vinculados ao mercado de carbono.
"Mas não há uma posição fechada", diz Thaís Juvenal, diretora do Serviço Florestal Brasileiro. O formato, hoje, é o do Fundo Amazônia, onde se captam recursos baseados na redução de emissões já evitadas. A sociedade civil faz parte do comitê orientador do Fundo e discute a aplicação de seus recursos.
(Valor Econômico, 12/5)
Daniela Chiaretti escreve para o “Valor Econômico”:
Na Amazônia brasileira, nas árvores que estão nos 100 milhões de hectares de terras indígenas e reservas extrativistas, há 15 bilhões de toneladas de carbono estocadas.
Este volume impressionante, que causaria um caos climático se liberado na atmosfera, é 30% das 47 bilhões de toneladas de carbono que estão espalhadas nos troncos, galhos e no solo das florestas da região. Mais do que isso: representa oito vezes o esforço mundial de reduzir a emissão de gases-estufa prevista no primeiro período do Protocolo de Kyoto.
Esses dados foram divulgados ontem, em Brasília, durante um seminário que reúne povos indígenas e populações tradicionais da Amazônia brasileira e de países vizinhos para discutir mudanças climáticas.
Fazem parte de estudo do Instituto de Pesquisa da Amazônia (Ipam) com a Universidade de Minas Gerais e o Woods Hole Research Center. "Fica evidente o papel que eles têm na preservação das florestas e na proteção deste grande estoque de carbono", diz Paulo Moutinho, coordenador de pesquisas do Ipam.
O que se discute é REDD, a sigla para Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação, que define um mecanismo para evitar a emissão de carbono que acontece nas queimadas e derrubadas de florestas. REDD tem sido discutido nas reuniões internacionais que antecedem à 15ª Conferência do Clima das Nações Unidas em dezembro, em Copenhague.
"O grande risco do REDD é ficar no varejo, cada um com seu método e seu tipo de compensação, uma série de projetos com uma série de atores e política diversa sem respeito aos direitos das populações tradicionais", resume o pesquisador. A ideia do seminário é avançar no debate e chegar a Copenhague com um documento que enumere as propostas e os princípios de REDD de acordo com a visão dos povos da floresta. "REDD precisa ser de larga escala, com princípios de transparência e governabilidade", registra Moutinho.
"Estamos, nesse momento, com todas as calhas maiores de rios do Estado do Amazonas alagadas e com 20 mil famílias desabrigadas", diz Manoel Cunha, presidente do Conselho Nacional dos Seringueiros. "Isto nunca aconteceu na história", continua, detectando o que considera o efeito das mudanças climáticas na Amazônia.
O seminário, diz, pretende iniciar a construção de uma proposta de REDD para a floresta amazônica e discutir novas formas de usar os recursos naturais da região. "Hoje é mais fácil encontrar créditos para desmatar um hectare de floresta e criar gado que para conseguir financiamento para coletar castanha ou comprar um kit e extrair látex das seringueiras. Temos que mudar este cenário", diz Cunha.
Francisco Avelino Batista, conhecido como Chico Apurinã, líder da Coiab (entidade que representa 165 etnias), registra que os povos indígenas estão sofrendo os efeitos do aquecimento global sem desmatar a floresta. "Nosso entendimento é discutir REDD de forma que se reconheça o trabalho que fazemos", diz.
REDD é uma palavra ampla, onde cabem muitas interpretações. A do governo brasileiro, por ora, é a de que as florestas devem participar dos mecanismos de negociação do regime climático, mas isso não significa negociar projetos de redução de emissão baseados em reduções futuras ou vinculados ao mercado de carbono.
"Mas não há uma posição fechada", diz Thaís Juvenal, diretora do Serviço Florestal Brasileiro. O formato, hoje, é o do Fundo Amazônia, onde se captam recursos baseados na redução de emissões já evitadas. A sociedade civil faz parte do comitê orientador do Fundo e discute a aplicação de seus recursos.
(Valor Econômico, 12/5)
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