quarta-feira, 13 de maio de 2009

O paradoxo chinês

País dos mais poluidores é também recordista em usinas de carvão 'limpas'

Keith Bradsher escreve para o “New York Times”:

A construção frenética de novas usinas de carvão na China tem causado temores em todo mundo sobre os efeitos que isso pode ter no clima. Atualmente, a China usa mais carvão — uma fonte de energia “suja” — do que Estados Unidos, Europa e Japão juntos, fazendo do país o maior emissor de gases que contribuem para o aquecimento global.

O que tem sido pouco comentado é o fato de que a China está se tornando também a maior construtora de usinas de carvão mais eficientes e, portanto, menos poluentes, dominando essa tecnologia e diminuindo os seus custos. Enquanto os EUA ainda discutem se devem aderir a esse modelo de eficiência, a China já constroi essas usinas numa média de uma por mês.

Novas usinas liberam menos CO2

Embora o secretário de Energia dos EUA, Steven Chu, tenha dito que o governo Obama pode seguir esse exemplo, o investimento em uma nova geração de usinas menos poluentes, que transformam carvão em energia antes de queimá-lo, estacionou no país. O governo chinês, por sua vez, já aprovou a construção de uma usina semelhante, que deve ser erguida em Tianjin.

— O governo chinês tem dado passos rápidos e firmes nesse setor — garante Hal Harvey, presidente da ClimateWorks, um grupo de São Francisco que ajuda a financiar projetos que limitam o aquecimento global.

Diversos países do Ocidente dependem largamente de usinas de carvão construídas há décadas, com tecnologia ultrapassada e ineficiente, que queima muito carvão e emite uma quantidade considerável de dióxido de carbono (CO2). Na China, as autoridades começaram a exigir que as empresas retirem de circulação antigas usinas para cada uma nova que for construída.

Segundo Cao Peixi, presidente da estatal China Huaneng Group, maior empresa do setor elétrico do país, projetos como o de uma usina em Tianjin vão ser tocados com todo o empenho, embora sejam mais caros do que a construção de uma usina convencional.

— Não devemos olhar para esse tipo de iniciativa por um lado puramente financeiro. Isso representa o futuro.

Sem dúvida, as usinas de carvão da China ainda apresentam problemas e a emissão de gases do efeito estufa do país — que tem as maiores reservas de carvão do mundo, depois dos EUA e Rússia — deve continuar aumentando. Mas o governo espera usar a nova tecnologia para reduzir tais emissões.

Uma usina eficiente queima menos carvão e emite menos CO2 para cada unidade de eletricidade que gera. Especialistas dizem que as usinas menos eficientes em atividade no país convertem entre 27% e 36% de carvão em eletricidade. Já as mais modernas e eficientes convertem cerca de 44% de carvão em eletricidade, significando que elas podem cortar as emissões em mais de 1/3 em relação às usinas antigas.

De acordo com um recente relatório da Agência Internacional de Energia, a China se tornou o maior mercado para usinas de carvão avançadas, com um controle de emissões altamente sofisticado. Por conta dos ganhos conseguidos com as novas usinas, a agência diminuiu a previsão anual de emissões do país de 3,2% para 3%.

— A China está fazendo mudanças de bases e isso está sendo levado em conta — afirma Jonathan Sinton, da Agência Internacional de Energia Mesmo assim, ao permanecer fortemente dependente de carvão — que gera 80% da sua eletricidade —, a China vai continuar mantendo os seus altos padrões de emissões.

A grande questão será ver até que ponto o país vai seguir nesse caminho.
(O Globo, 12/5)

Um comentário:

Nelson Wisnik disse...

É importante buscarmos a "eficiência energética" em nossas atividades mas, ainda que em termos relativos as usinas chinesas apresentem maior eficiência na obtenção de energia através da combustão do carvão, na sua essência este processo é o maior emissor de CO2, essa maior eficiência logo será absorvida pelo acelerado crescimento da necessidade de energia para sustentar o crescimento da China com a construção de mais usinas. O país dificilmente adotará outra tecnologia para obtenção de energia em detrimento da utilização de reserva energética própria.